O advogado curitibano Joel Santos Filho, autor do vídeo que registrou o ex-diretor dos Correios, Maurício Marinho, recebendo propina, deu ontem a sua versão do caso durante o Encontro Brasileiro de Direitos Humanos, em Curitiba. O episódio acontecido há mais de um ano foi o estopim de uma profunda crise que envolveu o governo Lula e derrubou ministros e deputados.
Acusado de invasão de privacidade, corrupção ativa e espionagem, Santos Filho ficou preso durante sete dias na carceragem da Polícia Federal em Brasília. Ontem, ele entregou ao presidente do comitê organizador do evento, Elias Mattar Assad, uma carta testamento, documento de 14 páginas, escrito à mão, em que conta sua versão dos fatos e as violações de direitos que sofreu em conseqüência da filmagem.
Advogado, professor e consultor de marketing, Santos Filho contou que foi a Brasília ajudar um amigo, Arthur Wascheck Neto, a provar a existência de corrupção dentro dos correios. No entanto, ele alega que queria conhecer pessoalmente o diretor dos correios para fazer juízo próprio de Maurício Marinho.
Fazendo-se passar por representante de uma multinacional, Santos Filho reuniu-se com Marinho, que mostrou interesse em manter negócios (ilícitos) com a empresa. Assim, segundo ele, Marinho passou a relatar pormenores da atuação dele, ali, como gestor na legalização de falcatruas e procurador oficioso do deputado Roberto Jefferson. ?Ali nascia a revolta em quem chegou lá para afastar culpa de filmar talvez um inocente e saí de lá convicto de que deveria filmar e produzir as provas materiais de corrupção?, disse Santos Filho, na carta.
Assim, ele se reuniu mais três vezes com Marinho, agora, portando um equipamento de gravação escondido em sua valise e produziu as provas que, publicadas na revista Veja, desencadearam a crise do ?mensalão?, cassações e demissões de ministros.
?Por minhas virtudes e coragem de provar esse crime, acabei preso, ameaçado de morte, humilhado pelas CPIs, acusado de ser espião, virei o culpado pela crise, enquanto o sr. Marinho, o verdadeiro criminoso da história, passou a ter proteção policial?, disse Santos Filho, lembrando que foi preso e levado para Brasília com as roupas do corpo, teve o apartamento revirado pela Polícia Federal, que levou todos seus arquivos, agendas, computadores, back-ups, cópias de processos de clientes, que até hoje não foram devolvidos. ?Até hoje estou praticamente impedido de trabalhar?, revelou.
No final de sua carta, Santos Filho indaga a respeito de seus atos e de sua prisão, mas a pergunta principal que até hoje ele diz não ter tido uma resposta é: ?Se as provas que produzi são consideradas ilegais (o que me levou à prisão), como podem ter criado uma CPI afastado ministros e cassado deputados com base nela??.
O presidente do comitê organizador do evento, Elias Mattar Assad, lembrou que ?um dia, a nação terá que resolver essa contradição: as provas são ilegais e Santos Filho é um criminoso ou ele é um herói nacional, que produziu uma prova que fez o Brasil ser passado a limpo??. A íntegra da carta de Joel Santos Filho encontra-se no site www.direitoshumanos.adv.br/tribuna-livre-joelsantosfilho.htm.