Em meio a muito tumulto, o secretário de Estado da Comunicação, Airton Pisseti, entregou documentos sobre gastos das viagens que fez até o Paraguai para contribuir na campanha eleitoral de Fernando Lugo, candidato à presidência daquele país. Pisseti participou ontem de uma audiência na Comissão de Comunicação da Assembléia Legislativa como convidado, numa sessão que durou mais de três horas.
O secretário reiterou que as viagens são de caráter pessoal e que não foram autorizadas pelo governador Roberto Requião porque não se tratava de missões oficiais, embora o governador tenha sido informado em todas as ocasiões.
Durante a sessão, Pisseti entregou para o presidente da comissão, Marcelo Rangel (PPS) os extratos do cartão corporativo que está em seu nome e também de seu cartão de crédito pessoal. Os gastos no cartão do governo, no período de 1º de setembro de 2007 até ontem, eram de R$ 2.598,80. O secretário ainda mostrou um ofício em que pede os descontos dos dias úteis nos quais esteve ausente no trabalho para poder viajar ao Paraguai. Segundo documento apresentado por ele emitido pela Secretaria de Estado da Administração, foram 11 viagens, sendo duas delas em período de férias (que ainda estão em andamento). Pisseti deixou à disposição os comprovantes de restituição dos gastos feitos com telefone do governo do Estado nestas datas. Foram mais de 50 horas de ligações para o Paraguai.
?É impossível tocar uma campanha em três ou quatro dias. Está sendo uma contribuição para um amigo e só. Eu pago todas as minhas despesas. Se eu fosse para lá com autorização do governador, estaria em missão especial, e eu estava em caráter particular. Requião tem conhecimento que eu estava contribuindo na campanha. Ele não autorizou porque eu não solicitei. Eu sou secretário 24 horas por dia e continuei atendendo todas as ligações enquanto eu estive no Paraguai. Em nenhum momento deixei de trabalhar?, afirmou Pisseti.
Sobre a devolução que vai fazer aos cofres públicos dos dias úteis em que esteve fora, Pisseti explanou: ?Não acho justo, porque continuei trabalhando. Mas estou fazendo de forma voluntária?. Ele ainda negou qualquer repasse do governo do Estado para a campanha de Fernando Lugo. ?Agradeço a Deus esta oportunidade de mudar a política no Paraguai. É uma pena que não posso estar lá 24 horas por dia para ajudar mais?, revelou.
O líder da oposição, Valdir Rossoni (PSDB) havia questionado sobre saques feitos pela Secretaria da Comunicação em datas próximas às viagens de Pisseti, mas foi interrompido pelos deputados governistas. Posteriormente, Marcelo Rangel trouxe o questionamento sobre aportes de R$ 69 mil perto das viagens. Pisseti respondeu que a Secretaria de Comunicação recebe diversos aportes e que as datas podem ter sido coincidências. Rangel afirmou que os documentos agora serão analisados. Na opinião dele, Pisseti precisa ser exonerado pelo governador Requião.
Durante a sessão na Comissão de Comunicação, Pisseti também afirmou que havia um deputado estadual participando da campanha eleitoral de um dos candidatos para a presidência do Paraguai. Mas não revelou o nome. Após a reunião, Pisseti disse que não comentaria mais nada. Questionado sobre o assunto, o deputado da situação Luiz Cláudio Romanelli também não quis o nome do parlamentar, mas não é novidade que Jocelito Canto (PTB) apóia a candidatura de Lino Oviedo.
Rossoni: ?A blindagem e o treinamento foram bem-feitos?
A sessão foi marcada por diversas confusões. O ápice foi a apresentação de um documento, por parte do deputado Valdir Rossoni (PMDB), pedindo a autorização de quebra do sigilo bancário de Pisseti. O documento foi considerado ofensa por parte dos deputados governistas. A discussão para aceitar ou não o documento foi tão acalorada queos deputados Nereu Moura (PMDB) e Marcelo Rangel se exaltaram, com dedos em riste. Depois de muito tempo, Pisseti disse que não assinaria o documento nem autorizaria a quebra do seu sigilo bancário por se tratar de um pedido anti-regimental.
A confusão, no entanto, não tinha terminado. Valdir Rossoni se afastou da sessão, alegando que há mais de uma hora estava tentando concluir seus questionamentos e não conseguia. Outros deputados da oposição seguiram Rossoni e deixaram a Sala das Comissões da Assembléia. ?Em nenhum momento eu perdi a calma. Mas a ?tropa de choque? do governo interferia em qualquer pergunta?, comentou Rossoni. Ainda enquanto estava na sessão, ele falou que ?a blindageme o treinamento foram bem feitos?, se referindo aos deputados aliados do governo.
À tarde, o caso Pisseti voltou a ser debatido no plenário. Enquanto o líder do governo na Casa, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB) elogiou a conduta do secretário, ?que apresentou os extratos de seus cartões e, voluntariamente, autorizou a devolução aos cofres públicos dos gastos com ligações e das parcelas do salário pelos dias que esteve fora do país?, Rossoni disse que Pisseti saiu da audiência como ?réu confesso?, pois desmentiu declarações anteriores, de que só teria ido ao Paraguai em finais de semana, revelou a ciência de Requião quanto às viagens e ?admitiu a irregularidade ao devolver recursos aos cofres públicos?.
Marcelo Rangel ainda apresentou documentos de viagens do secretário para ?reunião técnica? em Foz do Iguaçu, com recursos para hospedagem e alimentação em datas coincidentes às de suas viagens ao Paraguai. ?Todos os documentos serão enviados ao Ministério Público. Que investigará os diversos crimes cometidos, como improbidade, prevaricação e crime contra o Estatuto do Servidor Estadual?, disse.