Em manifestação encaminhada na manhã desta terça-feira (11) ao Supremo Tribunal Federal (STF), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se posicionou contra o pedido do Partido dos Trabalhadores para adiar o prazo de substituição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cabeça da chapa petista.

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Raquel Dodge também defendeu a rejeição do pedido formulado pelos advogados de Lula para suspender a decisão do plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que negou o registro do ex-presidente por enquadrá-lo na Lei da Ficha Limpa.

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O PT tenta no Supremo ganhar mais tempo e adiar a troca na cabeça de chapa até o dia 17 de setembro, prazo final para a substituição de candidaturas, conforme o calendário eleitoral. A sigla quer que o Supremo dê a palavra final sobre a candidatura do ex-presidente, analisando um recurso extraordinário que foi enviado ao Supremo na noite do último domingo (9) pela presidente do TSE, ministra Rosa Weber.

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Os pedidos do PT estão sendo analisados pelo decano do STF, ministro Celso de Mello, que trabalhou madrugada adentro, mas ainda não havia tomado decisão até a publicação desta matéria.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa após ser condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no caso do tríplex do Guarujá (SP), um dos casos de corrupção investigados no âmbito da Operação Lava Jato.

“No que tange à Lei da Ficha Limpa, a exigência de ‘vida pregressa’, a preocupação com a probidade e moralidade, bem como a restrição do direito a ser votado daqueles envolvidos na prática de crimes correspondem a uma exigência de defesa da democracia”, observou Raquel Dodge em seu parecer.

“O direito à boa governança impõe condições ao exercício do direito político de ser votado, visando evitar que aqueles envolvidos em práticas consideradas crimes graves ou ainda outras condutas ofensivas à moralidade e legalidade possam retornar ao poder”, afirmou.

ONU

Na avaliação da procuradora-geral da República, a posição do Comitê de Direitos Humanos da ONU a favor da candidatura de Lula é “frontalmente contrária” à Lei da Ficha Limpa, “a qual foi editada, como se sabe, justamente em prol da defesa dos direitos humanos de milhares de brasileiros a um processo eleitoral formado por candidatos mais probos”.

“Essa lei foi fruto de iniciativa popular, sendo resultado de uma ampla mobilização da sociedade civil. Foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, destacou Raquel Dodge.

Para a procuradora-geral da República, portanto, o comunicado do Comitê de Direitos Humanos da ONU não afasta a inelegibilidade de Lula. Essa posição também foi endossada pela maioria dos ministros do TSE no início deste mês, quando a Corte Eleitoral rejeitou o registro de Lula. Apenas o ministro Edson Fachin entendeu naquela ocasião que o posicionamento do comitê – a favor das pretensões eleitorais do ex-presidente – deveria viabilizar a sua candidatura.

Ineditismo

Segundo Raquel Dodge, a “áurea de novidade” em torno do caso de Lula se deve ao fato de que o TSE não havia se deparado antes com “situação de inelegibilidade manifesta (de conteúdo patente e indiscutível, frise-se)” de um candidato ao Palácio do Planalto fundada na Lei da Ficha Limpa.

“Ou seja: acórdão do TSE é inédito (…) porque os fatos que lhe são subjacentes, tristemente, também o são. Assim, diante do ineditismo dos fatos, sobreveio decisão também inédita (mas baseada em entendimento firmado em 2016) – que circunstancialmente se deu em desfavor de Luiz Inácio Lula da Silva, mas que poderia ter sido proferida contra qualquer outro candidato que estivesse em condições semelhantes”, sustentou Raquel Dodge.