Os delegados de Polícia Federal Igor Romário de Paula e Márcio Anselmo avaliam ‘humanamente impossível’ estancar a corrupção no País com base apenas na Operação Lava Jato. “O que tem chamado nossa atenção é que cada vez mais parece haver um desafio às instituições e às autoridades do País”, disse Igor Romário, após a deflagração da Pixuleco II.
A Pixuleco II é o 18.º capítulo da Lava Jato que pegou esquema de propinas a partir de contrato de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento. A Lava Jato mirou, inicialmente, em doleiros, chegou à Petrobrás, à Eletronuclear, a agências de publicidade contratadas pela Caixa e pelo Ministério da Saúde. Aportou nesta quinta, 13, no Ministério do Planejamento do governo Dilma Rousseff.
“Se falamos em determinada fase (da investigação) que alguns operadores (de propinas) chegaram a atuar alguns meses depois da deflagração da Lava Jato, que algumas empreiteiras realizaram pagamentos (de propinas) depois da prisão de alguns empreiteiros, agora estamos falando de um esquema que pagou até o mês passado”, disse Igor Romário.
O delegado considera que o ‘raciocínio provável’ dos investigados é que a grande investigação chegaria a eles também, mas nem isso os intimidou pois continuaram movendo a roda de propinas. “Isso é quase um desafio às instituições do País.”
Igor Romário observa que a sucessão de operações no universo da Lava Jato não obedece um cronograma prévio. As missões são realizadas a partir da descoberta de fatos novos. “A principal questão é que o direcionamento da investigação vai a partir dos fatos que vão se apresentando. Os fatos vão se apresentando. A estratégia da investigação não foi, por exemplo, Petrobrás, ‘vamos ver tudo que está de errado na Diretoria de Serviços’, não é assim. Os fatos é que foram se apresentando.”
O delegado defendeu a importância das delações premiadas, mas ressaltou que não é apenas na palavra dos delatores que a Lava Jato se fia. “As colaborações, que são alvo de questionamentos, têm grande importância, mas muitos documentos que localizamos junto com o Ministério Público Federal têm corroborado (as delações).”
“Podem até perguntar se a Polícia Federal vai sair da Petrobrás, se vai para outras áreas”, prosseguiu o delegado Igor Romário. “Não é um critério nosso, assim, vamos ver se tem corrupção no Ministério do Planejamento. Os fatos estão nos levando lá. Isso é um direcionamento que a gente não tem muita autonomia em determinar onde investigar.”
A PF descobriu que no dia 3 de julho a organização envolvida nas fraudes com dinheiro dos consignados do Planejamento efetuou dois repasses de propinas, um deles no valor de R$ 300 mil , ‘depois de quinze ou dezesseis fases da Lava Jato’. O procurador da República Roberson Pozzobon, da força-tarefa do Ministério Público Federal, observa que é ‘nesse sentido que se verifica a audácia dos criminosos em continuar a praticar ilícitos com pessoas investigadas sabendo que a investigação pode chegar a eles’.