A Operação Acarajé, da Polícia Federal, mira em Armando Trípodi – emblemático personagem da Lava Jato citado no capítulo que envolveu o então presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (morto em 2014) em suposta chantagem de R$ 10 milhões para engavetar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em 2009.
Esse dinheiro, segundo revelou o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera, teria sido usado para abastecer a campanha tucana de 2010.
Trípodi teria dado sinal verde para Paulo Roberto levantar recursos desviados da estatal e fazer o repasse a Guerra. Na época, ele exercia a função de chefe de gabinete do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Na segunda-feira passada, dia 22, a PF deflagrou a Acarajé e a Petrobras demitiu Trípodi da função de gerente executivo de Responsabilidade Social.
Um relatório subscrito pelo delegado federal Filipe Hile Pace, que conduz o inquérito da Acarajé, revela laços estreitos de Trípodi e do operador de propinas Zwi Skornicki.
O alvo maior da nova fase da Lava Jato é o publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula em 2006 e de Dilma, em 2010 e 2014. Santana e sua mulher, Monica Regina Moura, foram presos.
Zwi Skornicki também está preso. Ele teria realizado pagamentos milionários ao casal Santana a pedido da empreiteira Odebrecht por serviços prestados ao PT, segundo os investigadores.
Trípodi foi alvo de buscas da Acarajé. O documento da PF aponta “indícios do oferecimento e efetivo pagamento de vantagem indevida (por parte de Zwi Skornicki) em favor de Armando Trípodi”. O relatório assinala expressamente que o ex-chefe de gabinete de Gabrielli recebeu propina “consubstanciada no pagamento da execução de serviços na residência do funcionário público por empresa especializada, sem aparente causa lícita e justificável”.
Os investigadores da Acarajé descobriram anotações pelas quais “constata-se que o custo total dos serviços – que envolviam a instalação de aparelhos audiovisuais, de iluminação e de automação -, com o preço dos equipamentos, totalizaria R$ 90 mil.
“Chama a atenção a anotação de que a nota fiscal da execução do projeto deveria ser emitida em nome do ‘Sr. Armando’, isto é, em nome de Armando Trípodi, muito embora Zwi Skornicki tivesse arcado com parte das despesas sem justificativa lícita e razoável.”
O relatório relembra a primeira citação a Trípodi, na delação premiada de Paulo Roberto Costa. Em agosto de 2014, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras relatou que, em 2009, foi procurado pelo então presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, que teria exigido R$ 10 milhões para abafar a Comissão Parlamentar de Inquérito que havia sido instalada para apurar irregularidades nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
A obra era um dos sete alvos suspeitos na Petrobrás que justificaram a abertura da comissão, em julho daquele ano. Foi a primeira vez que um nome do PSDB apareceu no escândalo de corrupção na Petrobras.
Sérgio Guerra teria sugerido a Paulo Roberto que “tivesse uma conversa” com Armando Trípodi. O delator afirmou que o tucano relatou a ele que o dinheiro abasteceria as campanhas do PSDB em 2010. Naquele ano, o presidente do partido foi o coordenador oficial da campanha presidencial do candidato José Serra. Integrantes da campanha informaram que o ex-senador não fez parte do comitê financeiro.
“Não se pode deixar de destacar que a própria Petrobras, em auditoria interna, apontou o nome de Armando Trípodi como um dos funcionários com indícios de cometimento de irregularidades no âmbito da estatal”, assinalou o delegado Filipe Hille Pace.
A defesa de Trípodi não foi localizada para falar sobre a Operação Acarajé. Quando seu nome foi citado no episódio sobre o suposto repasse de R$ 10 milhões para a campanha do PSDB, ele divulgou nota na qual repudiou “com indignação e veemência quaisquer insinuações ou afirmações caluniosas que procurem vincular meu nome a práticas criminosas”.
“Esclareço, em definitivo, que jamais tive qualquer contato com o senador Sérgio Guerra. Esclareço também que nunca tratei com o ex-Diretor (Paulo Roberto) de qualquer assunto que não fosse relativo à Gestão da Companhia”, ressaltou, na época.
Também naquela ocasião, o PSDB divulgou nota defendendo que o caso fosse investigado. “O PSDB defende que todas as denúncias sejam investigadas com o mesmo rigor, independente da filiação partidária dos envolvidos e dos cargos que ocupam”, dizia o texto.
A defesa de Zwi Skornicki informou que só vai se manifestar nos autos da Acarajé e que considera desnecessária a prisão. Segundo a defesa, Skornicki é investigado há mais de um ano e sempre ficou no Brasil à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos.