Apesar de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter pedido na última semana o arquivamento das apurações contra o senador e ex-governador de Minas Antonio Anastasia (PSDB), a Polícia Federal encaminhou ao ministro Teori Zavascki, relator do caso na Corte, documentos que supostamente trazem novos elementos ao caso.

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O material enviado pela PF tem origem em uma denúncia feita por uma “cidadã comum” ao gabinete pessoal da Presidência da República, em janeiro deste ano. Na denúncia, a autora descreve uma residência na qual um dos mensageiros do doleiro Alberto Youssef teria efetuado um pagamento em dinheiro a um político que a PF investiga se é Anastasia.

A denúncia relaciona o endereço descrito pelo ex-policial federal Jayme Alves de Oliveira (conhecido como Careca) para suposta entrega de dinheiro a pessoa “parecida” com o tucano a um imóvel pertencente a um engenheiro de Belo Horizonte.

Embora a autora pedisse anonimato, o nome dela é identificado na denúncia, encaminhada ao Ministério da Justiça e à PF. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a denunciante já trabalhou na secretaria de Planejamento do governo de Minas Gerais, ainda na gestão tucana, encerrada em 2014.

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Os fatos não constam em relatório da PF anterior ao pedido de arquivamento feito pelo procurador-geral, tampouco aparecem na própria solicitação assinada por Janot para encerrar a investigação do senador mineiro. O jornal apurou que procuradores não tinham conhecimento da denúncia encaminhada ao Planalto ao pedirem o arquivamento das investigações.

Após a chegada dos novos documentos da PF ao Supremo no início desta semana, o gabinete de Zavascki deu vista ao caso novamente ao Ministério Público, para manifestação. Investigadores admitem, reservadamente, a possibilidade de “fatos novos” prorrogarem a apuração sobre Anastasia.

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Mesmo após pedido de Janot, o caso ainda não foi arquivado, pois depende de um despacho do ministro Teori Zavascki.

Ao pedir ao STF o arquivamento da investigação sobre Anastasia, Janot argumenta que as declarações de Careca não se confirmaram, mas pondera que a ausência de indícios “não inviabiliza que, caso, no futuro, surjam dados minimamente objetivos que justifiquem e permitam uma apuração em relação ao Senador, se retorne as investigações”, escreveu o procurador-geral.

Para Maurício Campos, advogado de Anastasia, é “absurdo casuísmo” a juntada de diligências que “sequer constavam do relatório parcial do delegado do caso” em junho. O advogado classifica como “estranho” o fato de a denúncia ser “tão antiga” quanto a instauração do inquérito, do início do ano.

“As tentativas de vinculação de endereços e residências no bairro Belvedere, (na zona sul da capital mineira), com o senador Anastasia são especulações sem nenhum compromisso com a verdade, que tentam dar sobrevida a um procedimento que jamais deveria ter sido instaurado contra ele”, disse Campos.

A assessoria do senador disse ainda que “confia no arquivamento solicitado pelo procurador-geral e pelo seu acolhimento pelo Supremo”.

No relatório da PF são citados dois endereços para a suposta casa onde o dinheiro teria sido entregue ao senador. Ambos no bairro de Belvedere, em Belo Horizonte, distantes cerca de 800 metros. Além da residência apontada pela denunciante, em uma primeira apuração, a PF chegou a um imóvel que pertenceria a um funcionário da Assembleia Legislativa de Minas.

No relatório, é sugerida “a existência de relevantes vínculos entre os atuais e antigos moradores da residência localizada na Av. José Maria Alkimim, 876, bairro Belvedere, Belo Horizonte/MG, e o grupo de sustentação política do senador Antonio Augusto Junho Anastasia”.

Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência diz que “não comenta” investigações em andamento. Além disso, “o Planalto desconhece os conteúdos dos documentos aos quais o jornal teve acesso, sendo assim, não há comentários para serem feitos”.