O delegado que conduz a operação Dallas, que investiga corrupção no Porto de Paranaguá, Jorge Fayad Nazário, confirmou, ontem, que a Polícia Federal e o Ministério Público pediram, também, a prisão do ex-superintendente do porto, Eduardo Requião, e do atual suplente de Roberto Requião (PMDB) no Senado, Luiz Mussi, mas não tiveram os pedidos aceitos pela Justiça. Ao todo, foram pedidas 17 prisões, mas somente dez foram autorizadas.
Segundo o delegado, os dois estariam envolvidos na fraude na licitação para a compra da draga pelo porto, um dos quatro crimes apurados na operação, mas que para esse fato, a Justiça Federal de Paranaguá não concedeu a prisão temporária de cinco dias por não constatar formação de quadrilha. “Não é que eles não tenham cometido o crime, é que, para este fato, a Justiça não considerou quadrilha”, explicou o delegado. Pela legislação, só crimes contra o sistema financeiro, de homicídio, sequestro, roubo, extorsão, estupro, atentado violento ao pudor, tráfico de drogas formação de quadrilha, são passíveis de prisão temporária.
Apesar de não terem as prisões decretadas, Eduardo e Mussi serão intimados a prestar esclarecimento à Polícia Federal. “Eles estão sendo investigados pela compra da draga. Serão intimados, num primeiro momento, para dar explicações. Com os depoimentos e as análises das provas que decidiremos sobre os próximos passos”, disse o delegado, que descartou pedir novamente as prisões neste momento. “Acatamos a decisão do juiz”, disse.
Questionado se Eduardo Requião teria de dar explicações sobre as armas e dinheiro (R$ 140 mil em notas) encontrados durante busca e apreensão em um de seus apartamentos no Rio de Janeiro, o delegado disse acreditar que esse é o menor dos fatos. “Ele vai ter que se explicar mesmo é sobre o processo de licitação para a compra da draga”, reforçou. A compra da draga é um dos quatro crimes apurados pela operação Dallas, que investiga, ainda, o desvio de cargas no porto, a fraude na licitação para a contratação de empresa de limpeza e o direcionamento da contratação de empresa para estudos ambientais.
Depois de ter várias licitações para a dragagem do canal da Galheta (principal acesso das embarcações ao porto) fracassados por irregularidades nos editais, o governo Requião decidiu comprar a própria draga. Numa licitação marcada por vários vícios, um equipamento da China foi adquirido, mas o processo foi suspenso por determinação judicial. A operação apurou que a empresa vencedora teria pago U$ 5 milhões em propina para vender a draga ao porto.
Ontem, enquanto acompanhava a visita de José Serra a Curitiba, o governador Beto Richa (PSDB) disse não estar surpreso com o resultado da operação. “Nos últimos anos tivemos uma gestão temerária a frente do Porto de Paranaguá”, disse. “Estranho que essa operação, já programada, não tenha acontecido no ano passado, não sei se por causa do período eleitoral”, acrescentou. O governador disse, ainda, que a Controladoria do Estado já está em Paranaguá para fazer sua própria apuração e prometeu, em breve “dar respostas a todos os paranaenses”.
Polícia faz novas apreensões
Mara Andrich
A Polícia Federal cumpriu, ontem, mandado de busca e apreensão em uma mansão no balneário Atami, em Pontal do Paraná, em cumprimento a mais um mandado de busca e apreensão. A casa está em nome da Ecoport, uma das empresas do ex-superintendente da Appa, Daniel Lúcio de Oliveira Souza. A Ecoport teria sido contratada irregular,mente pela Appa para desenvolver projetos ambientais no Porto de Paranaguá, na administração de Souza.
O delegado responsável pela Operação Dallas, Jorge Fayad Nazário, explicou que o mandado de busca e apreensão foi cumprido na mansão do Atami depois de denúncias de que dólares poderiam estar escondidos por lá. Segundo o delegado, não foi encontrado dinheiro em espécie na casa, mas documentos que comprovam que o imóvel está no nome da Ecoport foram recolhidos e encaminhados à PF. A casa tem aproximadamente 400 metros quadrados e piscina. O balneário Atami é um dos mais luxuosos do litoral do Estado, e fica localizado próximo à Praia de Leste.
Desde o início da Operação Dallas o nome dos presos não foi divulgado. A imprensa teve acesso a alguns nomes, como o do ex-superintendente Souza e do funcionário do Tribunal de Contas, Agileu Carlos Bittencourt. Ontem, a Justiça Federal do Estado do Paraná divulgou o nome de todos os detidos. Além de Souza e Bittencourt, foram presos provisoriamente Anderson Fumagalli, Fabrício Slaviero Fumagalli, Washington Viana e Silva, Paulo César de Sousa Vilela, Mauro Pereira Maia, Helder Sorgi Catarino, José Maria Moura Gomes e Maria Alejandra Fortuny. Com exceção de Souza, que está no Rio de Janeiro, os outros estão presos na sede da PF em Curitiba. A prisão temporária pode ser prorrogada por mais cinco dias em caso de necessidade para a investigação. O material apreendido também foi encaminhado para a sede da PF.