PF acha que Janene usou mensalão em mansão

Foto: Agência Brasil
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Polícia Federal cumpriu, ontem, nove mandados de segurança contra o deputado.

A Polícia Federal encontrou "indícios" de que o dinheiro do "valerioduto" – o esquema de dinheiro para parlamentares aliados ao governo, montado pelo publicitário Marcos Valério e pela cúpula do PT – enviado ao deputado José Janene (PR), que então liderava o PP na Câmara, foi utilizado por ele na compra de uma propriedade rural, na aquisição de dois terrenos num condomínio de luxo e na construção da uma casa de mil metros quadrados. A casa, segundo a PF, é avaliada em cerca de R$ 2 milhões. A CPI dos Correios apurou que Janene recebeu R$ 4,1 milhões do "valerioduto".

Nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem pela PF – cinco em Londrina, onde Janene reside, três em São Paulo e um em Barueri (SP). A operação, chefiada pelo delegado Gerson Machado, apreendeu documentos e computadores no escritório do deputado e na residência de dois funcionários dele – Rosa Alice Valente e seu marido Meheidin Hussein Jenani, que é primo de Janene.

Os dois e a esposa de Janene, Stahel Fernanda, vinham sendo investigados há dois anos a pedido do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda que acompanha a movimentação de correntistas de bancos por suspeita de lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. As investigações, segundo a PF revelaram indícios de movimentação financeira incompatível com a renda declarada, principalmente a partir do ano de 2003. No auge das movimentações, um dos investigados movimentou, em único mês, em março de 2004, um valor 300 vezes superior à sua renda.

Segundo o delegado da PF, as investigações seguiram a parte do dinheiro que a corretora Bônus-Banval, que intermediava o dinheiro do "valerioduto" para o PT, e que havia sido depositado nas contas de Rosa e de Stahel Fernanda. Além disso, as investigações seguiram também depósitos na conta de Meheidin feitos por uma off-shore do Panamá, por ordem da Taha Administração e Construção, de São Paulo, e de uma corretora localizada em Barueri.

A off-shore panamenha Quirkline detém 99% das ações da Taha e 1% em nome de uma advogada, que não teve sua identidade revelada. Segundo a PF, a Taha já teve como sócio o investidor Naji Nahas e, numa das contas da empresa, foi encontrado um "labirinto" de outras contas atribuídas a pessoas jurídicas. A PF apreendeu documentos na Taha, no escritório de contabilidade que a assessora, e no escritório da advogada. A busca na sede da corretora de Barueri, que não teve seu nome revelado pela PF, não pôde ser efetuada porque a empresa mudou de endereço.

Documentos de uma construtora londrinense também foram apreendidos devido à suspeita de que a construção da casa de Janene tenha sido financiada com os recursos do "valerioduto". O delegado disse não poder informar o total do dinheiro movimentado nas contas dos três investigados. "Alguns milhões", limitou-se a dizer. Uma fonte da PF assegurou que o valor é muito superior aos R$ 4,1 milhões liberados pelo "valerioduto".

O advogado de Janene, Adolfo Góis, classificou de "arbitrária" e "injusta" a operação da PF, que, na avaliação dele, teria de se limitar a apreender documentos dos funcionários do deputado, e não dele. Segundo o advogado, o mandado de busca não tem vínculo com Janene, tratando-se de supostos ilícitos de funcionários do deputado. "Ser funcionário de deputado virou crime. Estão tentando investigar Janene indiretamente. É uma demonstração que contra ele não há nada", afirmou.

Pedido rejeitado

Advogados de Janene questionaram ainda ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) a realização de operação de busca e apreensão no escritório do político no Paraná e na casa da família. De acordo com a defesa, a operação somente poderia ser realizada após determinação do STF, que é o tribunal pelo qual tramitam inquéritos e processos contra autoridades. A ordem partiu de um juiz federal de Curitiba. No entanto, o ministro do STF Cezar Peluso rejeitou o pedido dos advogados para que fosse suspensa a operação.

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