"Somos o governo, mas não podemos deixar de ter uma visão crítica e concordar com o que está errado no governo Lula". Foi com esta afirmação que o pré-candidato à presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-prefeito de Porto Alegre (RS) Raul Pont, lançou ontem, em Curitiba, a "Carta aos Petistas". O documento foi divulgado em todo o País e prega uma espécie de volta às origens programáticas. Defende a volta da vinculação do PT à classe trabalhadora e o fim da subordinação ao governo.
Para Pont, o PT perdeu sua identidade política e a mudança está enfraquecendo o partido: "Estamos tão distantes dos trabalhadores que há sindicatos importantes nos questionando e querendo se desfiliar da CUT", exemplifica. Entre as propostas apresentadas na carta, figura a retomada da relação do PT com os sindicatos. Pont também critica a subordinação do partido ao governo. "Queremos que o José Genoino deixe de ser um embaixador do governo e assuma a postura de presidente do partido. Não podemos aceitar o ritmo imposto pelo Executivo e políticas que afetem a nossa ligação com as bases que são os sindicatos", destaca.
Para o ex-prefeito, a submissão também afeta a imagem do PT: "É um governo de coalizão, mas somos culpados por todas as coisas ruins que acontecem", ressalta. Como exemplo, cita o caso do presidente do Banco Central Henrique Meireles. Ele está tendo que explicar à Justiça como conseguiu aumentar seu patrimônio de R$ 1,7 milhão para R$ 104 milhões em alguns anos. "Se ele não consegue provar de onde saiu o dinheiro deve ser demitido. Isto também vai respingar no PT? Não podemos ficar submissos a tudo isto", dispara.
Pont também não poupou críticas a política econômica. "As taxas de juros são exorbitantes e esta não é a única forma de combater a inflação. Só interessa aos bancos, liquida a indústria e não gera empregos", fala. No entanto, afirma que sua ala apoiaria Lula numa reeleição.
A "Carta aos Petistas" foi lançada em Recife e depois seguiu para outros estados. Pont destaca que 12 correntes já assinaram o documento. "Temos adesões em todos os estados", comemora. Mas seu nome ainda não está definido para a disputa. Outro que também pode concorrer a presidência do diretório nacional é o 3.º vice-presidente nacional do PT, Valter Pomar. "Estamos trabalhando para a união em torno de apenas um nome. Mais gente, enfraqueceria a disputa. A candidatura de José Genoino a reeleição é praticamente certa", admite. Hoje e amanhã a ala majoritária do PT estará reunida do Rio para tratar deste assunto.
No Paraná, o deputado federal Dr. Rosinha está animado com a resposta à corrente Democracia Socialista e seu trabalho para devolver o partido às raízes. Reforçando que vários nomes importantes do partido já assinaram a carta, observa que estão viajando pelo interior para divulgar a idéia e garantir novas adesões. Mesmo na hipótese de um resultado negativo na disputa doméstica, Pont afirma que a ala esquerda vai continuar lutando para levar o partido de volta às origens.