No dia 31 de outubro do ano passado, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) participava da entrega de uma obra em Ribeirão Corrente, no interior de São Paulo, quando um deputado aliado trouxe um bolo para celebrar a conquista de uma meta que começou a ser perseguida logo após a sua posse, em 2015. O tucano até assoprou velinhas por ter visitado a 645.ª cidade do Estado e finalmente tirado do seu mapa o último espaço em branco. O governador, enfim, tinha ido a todos os municípios paulistas.
Naquela altura, Alckmin já se apresentava como pré-candidato à Presidência, mas ainda não se movimentava como tal. O senador Aécio Neves (PSDB), seu principal adversário interno, estava fora do páreo após denúncias de corrupção. Mesmo assim, ainda pairavam dúvidas sobre o nome do governador paulista. O próprio Alckmin da festinha em Ribeirão Corrente resistia a nacionalizar o seu discurso e deixar São Paulo mais à margem da pré-campanha.
A movimentação do então prefeito da capital, João Doria, afilhado político que rodava o Brasil em seu jatinho como se estivesse em pré-campanha ao Planalto – apesar de sempre prometer fidelidade ao “mentor” -, também não ajudou.
Mesmo pressionado, Alckmin seguiu fiel ao seu estilo de “jogar parado”. Desde a reeleição no primeiro turno em 2014, a candidatura ao Planalto era considerada um passo natural, mas nenhum planejamento nessa direção foi tomado até que ele entregasse o cargo de governador, em abril deste ano. Em parte porque a expectativa original era que seu nome fosse lançado em 2016, na convenção nacional do PSDB – já que Aécio estava no segundo mandato à frente da sigla e, teoricamente, não poderia se reeleger.
“Houve um processo protelatório da escolha do candidato do PSDB à Presidência. O natural era que o Geraldo tivesse sido escolhido em 2016, mas Aécio prorrogou o próprio mandato à frente do partido. Isso prejudicou o processo”, conta o engenheiro e ex-secretário de Energia de São Paulo, João Carlos Meirelles, um dos mais próximos conselheiros de Alckmin.
O movimento de Aécio fez com que a candidatura de Alckmin só se tornasse realidade um ano depois, em dezembro de 2017, quando ele assumiu o comando do partido, em meio a uma disputa fratricida entre Aécio e o senador Tasso Jereissati (CE). O comando não significou sossego. Seu discurso era visto como pacífico demais para um ambiente político cada vez mais hostil. Naquela época, aliados já faziam uma cobrança que perdurou por toda a campanha: adotar um estilo mais agressivo para enfrentar uma eleição pulverizada e marcada pela radicalização.
Centrão
Foi só em 20 de julho, quando os partidos do Centrão anunciaram o apoio a Alckmin, que a candidatura do tucano finalmente passou a projetar expectativa de poder no mundo político. Ele estava em quarto lugar nas pesquisas no cenário sem Lula, com 9% das intenções de voto, mas teria o maior tempo de TV no horário eleitoral – 12 comerciais por dia, ante um a cada quatro dias de Jair Bolsonaro (PSL). Era questão de tempo para decolar nas pesquisas, dizia.
Às vésperas do início oficial da campanha, Alckmin acreditava que em pouco tempo implodiria a candidatura de Bolsonaro, que sempre subestimou. O ex-governador apostava que enfrentaria o candidato de Lula no segundo turno por achar que ainda representava o antipetismo. A expectativa não se concretizou. E foi quase sepultada no dia 6 de setembro, quando o atentado contra Bolsonaro mudou a previsão dos marqueteiros que viu a necessidade de mudar a campanha até então pautada em uma agenda reformista.
Pega de surpresa, a campanha tucana testou e descartou estratégias nesse último mês para tentar desconstruir Bolsonaro e devolver ao PSDB seu lugar na polarização com os petistas. Alckmin sofreu pressão de todos os lados. Foi obrigado a abrir mão do discurso reformista, baseado em propostas, para tentar, como última cartada, apresentar ao eleitor o “risco” de entregar o País aos “radicais”. Não se saiu bem na nova função.
“Ele fez uma campanha ‘padrão Geraldo’. Sabia que o debate poderia ser tomado por esse ambiente totalmente envenenado, mas construiu sua candidatura da forma como acredita, baseada em propostas e informações”, diz o ex-senador José Aníbal.
Velho estilo
Impacientes com a resiliência de Bolsonaro, aliados foram aos poucos se afastando, declarando apoio a concorrentes e até se negando a mostrar Alckmin em seus santinhos. Nem o investimento do PSDB na campanha – R$ 51,6 milhões declarados até a sexta-feira, valor superior à soma de Bolsonaro, Fernando Haddad e Ciro Gomes, todos à frente nas pesquisas – fez com que o tucano conseguisse impor sua campanha.
Mas, no velho estilo Alckmin, os mais fiéis se esforçam para manter uma narrativa otimista. “Acreditamos nos indecisos”, diz o deputado Silvio Torres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.