O esboço de uma aliança de partidos que reivindicam lugar intermediário entre o PT e o PMDB, líderes até o momento das pesquisas da corrida eleitoral para governador, começa a surgir no Rio Grande do Sul. A composição tem a simpatia de lideranças do PP, PSB, PTB e PC do B, que demonstram um discurso afinado, embora prometam uma decisão somente em março.

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“Estamos propondo que se crie uma linha fora destes polos”, diz o presidente estadual do PP, Pedro Bertolucci. “A maioria do eleitorado gaúcho quer uma alternativa ao PT e PMDB, que são os velhos conflitos dos últimos anos”, defende o possível candidato a governador do Rio Grande do Sul Beto Albuquerque (PSB).

Também eventual candidato a governador, o deputado estadual Luis Augusto Lara (PTB) vê uma lógica complementar com o PP, que é forte no interior do Estado, enquanto o PTB tem maior expressão na Grande Porto Alegre. Lara acrescenta que, entre ele e Beto Albuquerque, há consenso de que o nome melhor colocado nas pesquisas em março deve liderar a possível coligação.

O PC do B afirma que a prioridade é a coligação, sem descartar outras possibilidades. A aparente distância entre legendas, como a do PP com PC do B e PSB – que no Rio Grande do Sul foram tradicionais aliados do PT -, não representa empecilho, segundo os líderes. As siglas buscam na experiência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma das justificativas para a composição.

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“O presidente Lula demonstrou a melhor forma de resolver isso, unificando partidos que outrora nem sonhavam em apoiá-lo”, avalia o presidente estadual do PC do B, Adalberto Frasson, sobre a base de apoio à administração federal. Diferenças programáticas também podem ser superadas.

“Não preciso abrir mão do que eu penso, da ideologia, como o Lula não abre mão”, reforça o pré-candidato do PSB a governador do Rio Grande do Sul. Com os pré-candidatos definidos, PT e PMDB também buscam aliados para as campanhas, respectivamente, do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do prefeito da capital gaúcha, José Fogaça.

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PDT

Pretendido por Genro e Fogaça, o PDT tem no PMDB, com quem governa a capital gaúcha, o caminho mais provável. Com a desincompatibilização do prefeito de Porto Alegre para disputar a eleição, o PDT assumirá o comando da prefeitura até 2012, com o vice-prefeito José Fortunati. A agremiação, no entanto, cobra o cumprimento de um acordo feito com o PMDB que prevê o apoio recíproco ao candidato pedetista a prefeito em 2012.

“Primeiro, temos de equacionar 2010”, responde, reticente, o senador Pedro Simon, presidente estadual do PMDB. A eleição nacional também pode entrar no cálculo do PDT. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), entende que a maior parte dos filiados é favorável à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a presidente e sugere que Fogaça declare apoio a ela.

“Se Fogaça declarar apoio a ela, já diminuem os problemas. O PMDB vai apoiar a Dilma, já está anunciado”, interpreta Lupi. Internamente, o PDT receia uma divisão dos filiados entre o ministro da Justiça e o prefeito. “Uma preocupação é fazermos uma discussão intensa, de modo que todos sejam corresponsáveis”, afirma o presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan.

“Fogaça quer o nosso apoio e isso está sendo discutido dentro do partido. Mas é outra eleição e queremos saber os compromissos, se ele vai fazer um palanque com PMDB, se caminha para isso com a ministra Dilma”, completa Lupi. Simon diz preferir a chefe da Casa Civil ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB), mas lembra antigas divergências com o PMDB nacional – uma “legião estrangeira”, diz ele – e a tese de candidatura própria, liderada pelo governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que estará no Rio Grande do Sul no dia 31 para lançar o próprio nome.

Negociação

Escolhido pré-candidato pelo PT em julho, Genro tem dito que até mesmo a cabeça-de-chapa é negociável, em busca de ampliar as alianças além do espectro tradicional, se houver um nome de maior expressão. Habituais parceiros cobram mais desprendimento do PT. O PDT também espera do PT um compromisso em 2012, em troca de possível apoio nas eleições deste ano.

Alvo da oposição e de processo do Ministério Público Federal (MPF) por suposta improbidade administrativa – que ela nega e do qual foi posteriormente excluída -, a governadora Yeda Crusius (PSDB) ensaia estratégia de campanha à reeleição com foco no futuro. “Não olhamos para o retrovisor, olhamos para o para-brisa”, descreve o presidente regional do PSDB, deputado Cláudio Diaz, que nesta semana se encontrou com Simon. O PMDB, que participa do governo Yeda, entregará os cargos, sem retirar o apoio ao Executivo.