A sucessão estadual do próximo ano está mobilizando os partidos que começam a esboçar o desenho das alianças e composições para 2006. A nomeação do deputado federal Paulo Bernardo (PT) para o Ministério do Planejamento e a troca de comando no PSDB estadual no início da semana ofereceram uma visão inicial do processo eleitoral do próximo ano. Enquanto PSDB, PDT, PFL e PP fazem um movimento de aproximação, o PT e o PMDB vão na direção contrária, emitindo sinais de separação.
Peemedebistas e petistas reafirmam que terão candidatos próprios. Já os tucanos acenam para o PDT e PFL e se articulam para formar uma frente de oposição ao PT e ao PMDB, que, por sua vez, começam a trilhar caminhos separados. Atento aos movimentos do PT, o PMDB está tentando ampliar seu círculo de aliados. O presidente estadual do partido, Dobrandino da Silva, está no centro desse processo. Nos últimos dias, ele esteve acompanhando o governador Roberto Requião em dois encontros. Um com o deputado federal Nelson Meurer, que, falando em nome do PP, disse que o partido tem interesse numa composição com o PMDB em 2006. "O Meurer disse que eles querem conversar conosco", afirmou.
A segunda conversa foi com o deputado federal Fernando Giacobo (PL), que se reuniu com Dobrandino e Requião na Granja do Canguiri. O deputado do PL, segundo o presidente estadual do PMDB, também propôs uma aproximação com o governador. "Os nossos adversários podem se aliar à vontade. Só não podem esquecer que o PMDB, por ser governo, tem amplas possibilidades de alianças." Os contatos com o PL já envolvem o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, com quem Requião conversou pelo telefone sobre futuros acordos eleitorais, informou o presidente do PMDB.
Ninho cheio
A eleição de Valdir Rossoni para a presidência do diretório tucano, derrotando o senador Alvaro Dias, abriu caminho para o que a ala do partido liderada pelo presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão, mais quer: a costura de um acordo em torno da candidatura do senador Osmar Dias, que, por enquanto, jura que não sai do PDT. Mas os tucanos apostam nas amarras eleitorais da verticalização das coligações para atrair o pedetista, apostando que o senador não ficaria num partido que não tem tempo de propaganda na televisão e que se permanecer a verticalização das coligações, terá de se submeter a acordos nacionais que podem enfraquecer suas chances no Estado.
Já no PT, o discurso da candidatura própria se fortalece a cada nova crítica do governador Roberto Requião (PMDB) à política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E agora, com a promoção de Paulo Bernardo a ministro, a tese ganha mais força. De acordo com o deputado Natálio Stica (PT), a única possibilidade de o partido não lançar candidato próprio é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedir que o PT do Paraná se alie novamente ao PMDB no Estado. "Só vejo uma saída. É o Lula chegar e dizer que precisa do Requião com ele e também que nós estejamos com o Requião no Paraná. É claro que o Lula vai analisar o quadro para a sua reeleição no Paraná", afirmou Stica. Conforme o deputado, pode ser que Lula chegue à conclusão que, para o seu projeto de reeleição, uma candidatura própria do PT ao governo do Paraná seja mais interessante.
Taniguchi inicia jornada ao interior
Nas próximas semanas, o ex-prefeito de Curitiba Cassio Taniguchi começa a fazer uma série de reuniões por todo o Estado para divulgar o chamado projeto de refundação do PFL, mas também para sentir as possibilidades de construção de uma candidatura ao governo em 2006. Embora confirme que recebeu um convite do PL para ingressar no partido, Taniguchi negou ontem que esteja pensando em deixar o PFL. Pelo menos por enquanto, afirmou o ex-prefeito, que está apostando no projeto de candidatura própria do partido à presidência da República para montar um palanque no Estado para a sucessão do governador Roberto Requião (PMDB). "No momento, não cabe nenhuma mudança porque existe um projeto nacional", comentou. Taniguchi vai iniciar seu roteiro de reuniões partidárias regionais pelos municípios da Região Metropolitana de Curitiba, uma área que conhece bem e que se constitui num dos principais colégios eleitorais do Estado. "Nós vamos explicar o que é esse novo projeto do PFL, com suas novas propostas para as várias áreas. Vamos também conversar sobre a situação política nacional e local. Mas não vou me colocar como candidato ao governo. O César Maia (prefeito do Rio de Janeiro) se apresentou como candidato e veja o que aconteceu", brincou o ex-prefeito de Curitiba, referindo-se à intervenção federal nos hospitais municipais do Rio de Janeiro.
Taniguchi afirmou que o fato de o PFL estar trabalhando um nome para a sucessão presidencial do próximo ano pode levar o partido a fechar questão sobre o lançamento de um candidato ao governo no Estado. Nesse caso, Taniguchi já avisou à Executiva, em reunião realizada há algumas semanas, que pode apresentar seu nome.
Mas o partido, que tem uma ala muito simpática a um acordo para apoiar a pré-candidatura do senador Osmar Dias, sugeriu ao ex-prefeito de Curitiba que a credencial para uma pré-candidatura é montar uma base de apoio consistente no interior e, sobretudo, apresentar uma chapa pronta e completa de candidatos à Câmara Federal e Assembléia Legislativa.
Taniguchi disse que, nesta primeira fase das reuniões regionais, o enfoque principal é o novo modelo partidário. "Mas claro que estamos trabalhando para fortalecer o partido e aqueles que quiserem se apresentar como candidatos serão muito bem vindos", disse. (EC)
Vaga no Senado pode ser moeda de troca
Se a eleição do deputado estadual Valdir Rossoni para a presidência do PSDB é um passo na direção do apoio do partido à candidatura do senador Osmar Dias (PDT) ao Palácio Iguaçu, ela também deixa um ponto de interrogação em relação ao papel de seu irmão, senador Alvaro Dias, na campanha do ano que vem. Fortalecido, o grupo de Hermas Brandão e Beto Richa deve ter um peso decisivo na definição da candidatura ao Senado pela legenda tucana.
O presidente da Assembléia Legislativa já anunciou que pretende disputar a indicação e não se dispõe a abrir mão, a não ser no caso de fechar alianças com outras siglas. No quadro atual, ele tem força o bastante para vencer Álvaro numa convenção e ficar com a candidatura, restando ao senador tentar uma cadeira na Câmara Federal. Alguns observadores apostam que isso não o preocupa neste momento. A decisão de disputar a presidência do partido sem chance de vitória teria, na verdade, um outro objetivo: o de torná-lo a peça principal na tentativa de trazer Osmar para a legenda e, na seqüência, transformá-lo no coordenador de sua campanha ao governo do Estado. Um caminho natural na hipótese de o pedetista vir para o PSDB pelas mãos do irmão mais velho. No discurso que fez na semana passada, em busca do voto dos correligionários, Alvaro disse que sua meta era trabalhar com esse objetivo e que as probabilidades seriam maiores se ele estivésse no comando do diretório estadual.
Especulações indicam que Alvaro pode, também, trocar o PSDB pelo PP, que já o convidou a integrar seus quadros. O problema é que o partido de Severino Cavalcanti está mais propenso a apoiar Osmar do que a lançar candidato próprio à sucessão de Requião
Se Osmar vier para o PSDB, o partido poderá ter de negociar a vaga ao Senado para manter e consolidar a aliança com o PFL e o PP. Tudo isso vai entrar na pauta das discussões daqui para a frente e só se definirá com muita, mas muita conversa. (Sandra Cantarim Pacheco)