Brasília – Os seis partidos de esquerda que fazem parte da coalizão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançaram nesta quarta-feira (20) um bloco parlamentar na Câmara dos Deputados. Com uma bancada de 73 deputados em exercício, atrás apenas da do PT (82 deputados) e do PMDB (93 deputados), o bloco promete atuar em conjunto para aprovar projetos que, segundo os partidos que o integram, ajudem o país a se desenvolver com distribuição de renda. Fazem parte do bloco o PSB; o PDT; o PCdoB; o PMN; o PHS e o PRB.
Na solenidade de lançamento, as legendas divulgaram uma proposta de programa comum para orientar os trabalhos dos deputados em temas que vão da economia à integração entre os países em desenvolvimento. O documento defende ainda a universalização da educação de qualidade, a melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS), a promoção da reforma agrária e o fortalecimento do sistema público de comunicação.
Em relação à política econômica, o programa define que os parlamentares vão trabalhar para que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chegue a 5% e a uma taxa de investimento que alcance os 25% do PIB. No último ano, o país cresceu 3,7% e a taxa de investimento no primeiro trimestre de 2007 ficou em 17,2% do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para que o país atinja tais índices, o documento estabelece que os partidos de esquerda defenderão a autonomia do governo para decidir sobre a política econômica e acelerar a redução da taxa de juros e do superávit primário, recursos economizados pela União, estados, municípios e estatais para o pagamento da dívida pública. Segundo o programa, o Banco Central deve estar ?integrado e subordinado ao Plano Nacional de Desenvolvimento?.
O presidente nacional do PCdoB, Renato Rebelo, afirmou que o bloco pode, diversas vezes, pressionar o governo pelo aumento nos gastos em projetos de infra-estrutura e em programas sociais. Rebelo, no entanto, nega que os partidos de esquerda possam atuar contra o presidente Lula.
?O lançamento dessa plataforma comum não vai entrar em contradição com o governo Lula, mas nosso programa mínimo, na verdade, vai além dos objetivos do governo?, ressaltou Rebelo. ?Nossa meta é garantir o desenvolvimento, levando em conta sobretudo o investimento em infra-estrutura e a justiça social.?
Integrante do PSB, o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, afirmou que um dos méritos da proposta do bloco é pôr a educação e o desenvolvimento tecnológico como elementos centrais para o crescimento do país. ?A capacitação dos cientistas é condição essencial para o Brasil crescer com distribuição de renda e soberania?, disse ele.
Para o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, a criação do bloco é importante para forçar o Ministério da Educação a investir mais no ensino básico e na ampliação da universidade pública. ?Mesmo participando do governo Lula, o bloco vai colocar a educação sempre na pauta de discussão e puxar, de certa forma, o governo para gastar mais nessa área?, avaliou Petta, que foi convidado a compor a mesa do evento.
Durante o lançamento do bloco, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, afirmou que a união dos partidos de esquerda, a princípio, não tem objetivo eleitoral. ?Não queremos excluir ninguém: o bloco está aberto a todos os partidos que queiram comungar do nosso programa?, ressaltou. Ele afirmou, porém, que, nas eleições municipais de 2008, a prioridade das alianças será entre as legendas de esquerda.