Maioria do eleitorado, a mulher ainda é minoria no cenário político paranaense. Nas últimas eleições, dos 683 candidatos 92 eram mulheres, e apenas cinco se elegeram. Apesar do pequeno número, o resultado pode ser considerado uma vitória. Pela primeira vez na história do Paraná uma mulher foi eleita para deputada federal, e também pela primeira vez quatro mulheres estarão na Assembléia Legislativa.
A deputada reeleita Luciana Rafagnin (PT) iniciou sua militância no PT em 1986. Em 92 elegeu-se vereadora de Francisco Beltrão, e foi reeleita em 96. De outubro de 99 a fevereiro de 2000 ela assumiu a vaga do deputado Irineu Colombo, do qual era suplente. E no ano seguinte Luciana assumiu a cadeira na Assembléia, em substituição ao então deputado Péricles de Melo.
Uma das mais assíduas, teve 96,4% de presença nas sessões realizadas em 2001. Segundo ela, a reeleição foi resultado de um trabalho feito nos últimos anos. “Sempre estive nas bases, fazendo prestação de contas dos meus mandatos, na região sudoeste principalmente. Também atribuo minha votação ao crescimento do PT no Estado e da candidatura Lula”, diz.
Para Luciana a mulher ainda tem um longo caminho a percorrer até conseguir preencher a cota de 30% destinada pelos partidos. “A mulher ainda vê a política como uma coisa de homem, tem receio de participar. Acredito que na próxima eleição o número de vereadoras deverá crescer, e com isso a mulher irá vencer o preconceito”.
Segundo a deputada há uma identificação feminina muito grande na hora do voto. “Minha votação eu atribuo às mulheres, que durante a campanha diziam que votavam em mim para representá-las. Já estamos vencendo no voto, falta sairmos candidatas”, opinou. Luciana afirma ainda que falta um trabalho dos partidos políticos para atrair o público feminino. “Os partidos têm que valorizar as mulheres que são líderes, fazer um trabalho de filiação, e com isso dar uma cara nova à política”.
Ex-primeira dama de Maringá, Cida Borghetti (PPB) assume pela primeira vez um cargo eletivo. Entusiasmada com sua eleição, ela já está entrando em contato com as demais deputadas eleitas. “Seremos uma bancada feminina forte. A Luciana fez um ótimo trabalho na Assembléia, a Elza Correa é uma mulher de garra, e a Arlete Caramês foi minha colega de partido. Tenho certeza de que vamos honrar o nome das mulheres”.
Cida pretende desenvolver seu trabalho voltado para o social. “Vou apresentar projetos voltados à família, à saúde e educação. Além disso darei sustentação ao novo governo, apoiando projetos importantes”, afirma. Para a deputada, a representatatividade da bancada feminina deve crescer daqui a quatro anos. Mesmo sendo minoria ela não acredita que terá problemas de relacionamento com os deputados. “Sou militante há vinte anos e nunca tive nenhum problema de preconceito, sempre fui respeitada. Fui chefe do escritório de representação política em Brasília, convivi com deputados, prefeitos e senadores, e nunca tive nenhum problema”.
Candidata à Prefeitura de Maringá em 2000, ela conta que na época sentiu preconceito das próprias mulheres. “Algumas chegaram a dizer que não votariam em mim porque o marido não deixava. Nesta campanha isso não aconteceu”. De acordo com Cida, o preconceito feminino também está diminuindo. “Hoje a mulher vota em mulher sim. E a resposta está na expressiva votação que eu e a Luciana tivemos, mais de 53 mil votos cada”. Consciente do trabalho que terá, ela garante que está preparada para enfrentá-los. “A política consome a vida particular, a família e o divertimento, mas tem que haver determinação para seguir em frente”, define.
Vereadoras eleitas
Vereadora de Londrina no segundo mandato, Elza Correia (PMDB) pretende manter na Assembléia a mesma postura que tem adotado na Câmara. Para ela a eleição de quatro mulheres já é uma grande conquista, mas o número ainda é pequeno. Sua expectativa é de manter um bom relacionamento na Casa. “Dos 54 deputados apenas quatro são mulheres. Mas o que importa é a atitude democrática e respeitosa. Temos que nos respeitar como pares”, opina.
Elza lembra que já sofreu muito preconceito na política. “Há algumas tentativas de desqualificar o trabalho feminino. Mas se a mulher tiver competência e determinação não há machismo que resista”, acredita. Para a deputada, há preconceito inclusive entre as mulheres. “Eu ainda percebo que elas não votam em mulheres. Mais da metade do eleitorado é feminino, e no entanto nós só elegemos quatro mulheres. Isso porque temos um problema histórico, votamos há pouco tempo; existe a dificuldade em preencher as cotas e ainda há boicote dos partidos em apoiar o nome de uma candidata”.
Seu objetivo é formar uma bancada unida, mas Elza não pretende montar um ?clube da Luluzinha?. “Espero que seja uma bancada forte e coesa, mas não é porque somos mulheres que pensamos iguais”. A deputada lembra ainda que seus projetos não têm o foco apenas na mulher. “Meus mandatos não têm a característica de ser voltado somente para as mulheres. Temos que pensar em políticas públicas. Sempre fui envolvida com a questão do meio ambiente, saúde, segurança e educação, mas também com os direitos femininos”.
Conhecida como a mãe do Guilherme, a vereadora de Curitiba Arlete Caramês sempre dedicou seu trabalho na busca por crianças desaparecidas, drama que viveu há onze anos. De acordo com Arlete sua missão na Assembléia será dar continuidade à sua luta. “Não posso fugir do meu objetivo, quero expandir este trabalho”.
Em 1998 Arlete lançou-se candidata a deputada federal, mas não foi eleita. Em 2000 candidatou-se a uma vaga na Câmara, obtendo a segunda maior votação. Segundo ela, sua bandeira continua a mesma, a defesa das crianças desaparecidas e vitimizadas.
Federal
A primeira deputada federal da história do Paraná, a advogada Clair da Flora Martins, afirma que irá desenvolver um trabalho voltado não apenas para as mulheres, mas também para os jovens. “A questão feminina será discutida, mas a dos jovens também, como o ensino de melhor qualidade e profissionalizante e o primeiro emprego”, afirma.
Eleita vereadora por Curitiba em 2000, Clair está pronta para um desafio maior. “Quero trabalhar por grandes reformas, como a jurídica e a tributária, para desonerar a folha de pagamento das empresas, sem tirar os direitos dos trabalhadores. A Previdência Social também é uma área que precisa de mudanças, tendo em vista que 50% da mão-de-obra do país é informal”.
Incentivar as mulheres na política é outra meta da deputada. “Pretendo incentivar a participação política das mulheres, pois no mercado de trabalho ela já é grande”. Para Clair a pequena participação feminina na política deve-se à falta de dinheiro. “Se houvesse financiamento público de campanha as candidatas teriam menos dificuldades em se eleger, e poderiam ampliar sua participação”. Por esta dificuldade, ela sabe da expectativa que terá em torno de seu mandato. “É uma responsabilidade muito grande. Espero representar dignamente não só as mulheres, mas toda a população”, conta.
Feliz com o resultado da eleição, Clair alerta que é preciso votar com consciência, e escolher o melhor candidato, independente do sexo. “Não basta ser mulher, tem que ter propostas e compromissos”, defende.