Paranaenses acham CPI imprevisível

Deputados federais paranaenses que integrarão a CPI dos Correios não se arriscam a prever até onde as investigações sobre corrupção podem chegar e quantas vítimas ainda pode fazer, mas avaliam que depois das declarações do deputado federal Roberto Jefferson (PTB), nada poderá continuar como antes na relação entre Congresso e governo. Cotado para ser o relator da CPI dos Correios e um dos membros da Comissão de Sindicância criada pela Câmara Federal para apurar a compra de votos, o deputado federal paranaense Osmar Serraglio é dos que vêem no episódio um divisor de águas na política nacional. ?O que o Roberto Jefferson pode desencadear é uma nova história no parlamento, especificamente na relação entre o Congresso e o Executivo?, disse Serraglio.

Para o deputado Irineu Colombo, apontado como um dos futuros integrantes da CPI da Compra de Votos, ainda em processo de coleta de assinaturas, disse que este é um momento em que pairam dúvidas sobre o comportamento de todos e que não há outro caminho a não ser esmiuçar como e por que ocorre a corrupção. ?A prática existe? Se existe, tem que acabar. Doa a quem doer?, afirmou.

Já confirmado como membro da CPI dos Correios, o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB) é dos que acham que a salvação da imagem da política nacional virá não da superação da crise, mas do seu aprofundamento. ?A CPI já está instalada na sociedade e na imprensa. E por isso, a crise tem que se aprofundar para que se mexa na cultura política nacional?, afirmou o tucano. Para Gustavo, mais do que a reforma política e partidária, é necessário remexer nas entranhas do poder político para que surja uma cultura menos viciada.

Em alerta

Embora não sejam exatamente uma novidade as denúncias sobre compra e venda de votos no Congresso e esquema de corrupção em empresas estatais, Serraglio acha que há um diferencial nesta crise: ?Os sinais são claros de que acabou a impunidade. E ai de quem não perceber. Se o governo quiser retormar o rumo vai ter que enfrentar a questão de frente. Houve corrupção? Quem está envolvido? Então, está fora do governo. É uma questão de salvação. O governo tem que ir atrás dessas respostas e às vezes, as respostas doem?, analisou.

O deputado Gustavo Fruet disse que tanto o governo quanto a oposição têm que agir com responsabilidade para que o processo seja realmente de depuração das relações de poder. ?Se a oposição se comportar irresponsavelmente, cai no descrédito. Se o governo tentar abafar, cai no descrédito?, comparou o deputado tucano, que vê desorientação dos dois lados nesta fase de instalação da CPI. ?No governo, o presidente Lula está isolado e ainda não achou o tom da resposta para tudo isso. Já a oposição está abrindo muitas frentes. A forma como será conduzido o processo de escolha do presidente e relator da CPI será o teste para os dois lados?, disse Gustavo.

Já para Colombo, a tentativa da oposição de concentrar no Executivo toda a carga de responsabilidade sobre o esquema de corrupção está perdendo força. ?O problema está se deslocando do Executivo para o Legislativo?, afirmou o petista, acrescentando que o seu partido tem que se empenhar na elucidação dos fatos para recuperar sua credibilidade. ?Não podemos pagar com nossa história ética pelos erros de alguns poucos?, disse.

Dirceu diz a amigos que está disposto a deixar cargo

Brasília (AG) – Com o agravamento da crise política, as pressões por sua saída numa reforma ministerial e a ação da oposição para tentar envolvê-lo nas denúncias de corrupção, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, desabafou ontem a amigos e aliados que está disposto a deixar o governo. E que deverá disputar a eleição de deputado ano que vem, diferentemente do que já havia decidido, para fazer sua defesa e defender o PT. O ministro não esconde o nervosismo e a mágoa com a falta de apoio: ?Fui atacado. Não quero atrapalhar o governo, mas tenho que defender meu mandato e o partido. O PT tem que ser priorizado?, disse ontem a um petista.

Quem conversou com Dirceu nos últimos dois dias ficou assustado com o abatimento demonstrado por ele. Na avaliação do ministro, há um movimento claro para tentar desestabilizar e desacreditar o PT. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito avaliação semelhante. E, segundo assessores, não achará ruim caso Dirceu peça demissão.

Em conversas mais reservadas, Lula tem dito que a presença de Dirceu na Casa Civil leva a crise para o Planalto. A amigos e auxiliares, o presidente manifestou seu incômodo com o fato de Dirceu e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, terem virado fonte permanente de desgaste. Mas Lula e Dirceu devem construir uma saída negociada.

Reforma ampla

Isso poderia ser o pontapé da reforma ministerial mais ampla que Lula quer fazer para mostrar ação do governo diante da crise. Podem sair também o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá, ambos denunciados pelo Ministério Publico e investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Também estão em situação crítica os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política), Olívio Dutra (Cidades) e Humberto Costa (Saúde).

O governo teme uma associação mais explícita daqui para frente entre Dirceu, Delúbio e o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. O Planalto percebeu na oposição um discurso eficiente para colar no chefe da Casa Civil a paternidade das ações de Waldomiro, e de Delúbio: ?Delúbio começa a surgir na ação parlamentar com a queda de Waldomiro. Em comum ambos têm a ligação com Dirceu?, diz o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), integrante da CPI dos Correios.

O próprio Dirceu notou que virou alvo. Antes da crise, ele tinha decidido ficar no governo e não disputar um mandato para coordenar a reeleição de Lula. Mas, agora, já fala em coordenar a campanha de 2006 do PT e de Lula fora do Planalto.

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