Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981, manteve amplo contato com dissidentes brasileiros durante o regime militar e buscou formas de se reunir com vozes contrárias ao governo. É o que revelam documentos que estavam guardados pelo Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra. Um desses dissidentes era d. Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo de São Paulo. Cartas e conversas entre os dois revelam o objetivo mútuo de forçar o regime a se abrir.
No domingo, o jornal O Estado de S. Paulo revelou o teor de documentos que fazem parte de um arquivo de mais de 3 mil páginas mantido pelo Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra. Os papéis detalham a atuação de d. Paulo para denunciar a tortura durante a ditadura.
O diálogo entre o religioso brasileiro e o presidente americano sobre a situação no Brasil começou em 1977. Em 29 de outubro daquele ano, o cardeal enviou uma carta alertando Carter sobre a repressão, com uma lista de nomes de pessoas que haviam desaparecido.
Manobras
O encontro prometia ser delicado e ao mesmo tempo explosivo. Uma primeira tentativa foi a de incluir São Paulo no itinerário de Carter, o que daria a possibilidade de um encontro com d. Paulo. Mas essa possibilidade foi abandonada. O Rio acabou escolhido como alternativa para o encontro.
D. Paulo falou a Carter sobre a situação no Brasil e reivindicou uma posição dos EUA mais favorável à população dos países no Terceiro Mundo. O cardeal apresentou um memorando responsabilizando a Casa Branca pela proliferação de regimes militares, criticando as multinacionais e alertando sobre a situação de milhões de pessoas pelo mundo oprimidas por sua posição política, base religiosa ou raça.
O porta-voz do Itamaraty garantiu à imprensa que o presidente americano não mencionara os temas de direitos humanos nos encontros oficiais. Para a imprensa estrangeira, a Casa Branca desmentiu a versão e confirmou que o tema havia sido central na viagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.