O plebiscito sobre a separação do Pará em três Estados, realizado no último domingo, ao mesmo tempo dividiu e agregou a população. Em 100 dos 144 municípios onde houve a consulta, um dos lados teve 95% dos votos ou mais – ou seja, quase a unanimidade. O fenômeno do virtual consenso atingido nessas cidades, porém, não se deu em relação a um único lado. Em 62 delas, o “não” à divisão do Pará venceu. Em 38, triunfou a proposta da criação de Tapajós, na região oeste, e de Carajás, no sudeste.
Os eleitores votaram em bloco segundo a localização de sua cidade. Os que ficariam no chamado Pará remanescente, com área reduzida caso a separação fosse aprovada, se unificaram em torno do não. Os demais cerraram fileiras em torno do sim – com algumas exceções na região do Rio Xingu. É como se São Domingos do Capim (97% pelo não) e São Domingos do Araguaia (98% pelo sim) não tivessem nada de parecido além do nome, assim como Santarém (99% pelo sim), Santerém Novo (96% pelo não), Ipixuna do Pará (95% pelo não) e Nova Ipixuna (94% pelo sim).
O fator geográfico se impôs de tal maneira que impediu até que as frentes pró e contra a separação fizessem campanha em todo o Estado. Nas regiões próximas a Santarém, candidata a capital de Tapajós, e a Marabá, principal município de Carajás, nem sequer foram abertos comitês do grupo contrário à divisão. Em Belém, atos isolados da campanha separatista foram promovidos apenas por imigrantes do interior, simpáticos à causa por vínculos históricos e familiares.
O “muro” invisível não impediu que as mensagens de uma frente e de outra chegassem a todas as cidades pelo rádio e pela televisão – houve um mês de propaganda em rede estadual, em dois blocos diários, além de inserções curtas distribuídas ao longo da programação das emissoras. Mas cada lado ignorou os argumentos do outro.
Os separatistas, cuja campanha foi comandada pelo marqueteiro Duda Mendonça, fizeram jingles e vídeos dirigidos aos “irmãos de Belém” com apelos para que os ajudassem a criar novos Estados, com o argumento de que isso levaria o desenvolvimento para o interior. Já os defensores da manutenção do território usaram a televisão para espalhar a ideia de que, com a divisão, todos perderiam – principalmente o Pará remanescente, que ficaria sem os recursos minerais do sudeste e as florestas do sudoeste. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.