O acordo entre PT e PSB, que isolou o presidenciável Ciro Gomes (PDT) nas eleições 2018, é prejudicial à centro-esquerda, deixa o candidato sem terreno para crescer e reforça a estrutura oligárquica dos partidos políticos no Brasil.
A avaliação é do filósofo e professor Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dias antes Ciro havia perdido para o tucano Geraldo Alckmin o apoio dos partidos do Centrão – PP, DEM, PRB, PR e Solidariedade.
O professor acredita que as decisões de PT e PSB não são corretas. “Essas ações dos partidos são desastradas. Com o enfraquecimento da candidatura de Ciro, também perdem força os programas e candidatos da centro-esquerda brasileira, que é quem mais perde nesse jogo”.
Para formalizar a aliança, o PT deixa de lançar a vereadora do Recife Marília Arraes ao governo pernambucano para favorecer o atual governador, Paulo Câmara (PSB). Por sua vez, o PSB se compromete a manter a neutralidade no primeiro turno. Para ele, a decisão mostra que quem dá as cartas nos partidos políticos são os dirigentes e não as bases. “Isso evidencia a estrutura oligárquica dos partidos brasileiros. No Recife, a militância era contrária à decisão”.
Romano acredita que faltou a Ciro a diplomacia suficiente para conseguir dialogar com as legendas e atrair sua simpatia. No caso do PT, um apoio possibilitaria ao pedetista ser a alternativa no campo da esquerda, com possibilidade de ganhar força ao longo do pleito e herdar os votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato.
Já um acordo com PSB reforçaria o apoio de Ciro no Nordeste, principal reduto da sigla. “Agora, ele caminha numa situação difícil entre direita e esquerda. Não vejo muito terreno para que possa ampliar seu apoio”, avaliou o professor.