O senador Osmar Dias (PDT) voltou a alertar o governo federal para o risco de a crise na agricultura contaminar toda a economia do país. "A continuar a passividade do governo com relação a medidas indispensáveis para a agricultura, o setor será dizimado e a economia nacional entrará em colapso irreversível", declarou o senador pedetista, que vem cobrando sistematicamente do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) medidas mais eficientes para que o setor possa superar a crise atual, já registrada no ano passado.
Osmar não abandonou o tema, nem mesmo durante sua convalescença no início do ano, quando teve que se submeter a um tratamento de saúde. Em inúmeros pronunciamentos realizados ao longo de 2005 e neste início de 2006, o senador pedetista advertiu o governo sobre as conseqüências da crise. "Não se pode tratar os agricultores como ignorantes, pois eles sabem como outros setores da economia são acolhidos quando ocorre qualquer infortúnio, como é o caso dos bancos", lembrou o senador. Osmar citou que os produtores rurais estão empobrecendo de forma dramática. Esta constatação tem base em estudo da Faep (Federação da Agricultura do Paraná), revelando que mais de 70% dos agricultores do estado não conseguirão pagar suas dívidas este ano, destacou o senador.
Segundo dados apontados pela pesquisa da Faep, os custos de comercialização não cobrem os custos de produção. Osmar fez as seguintes comparações: em 2004, a soja era vendida por R$ 45,00; neste ano, R$ 26,00; ou seja, 40% a menos. O preço do milho, em 2004, era de R$ 18,00; em 2005, R$ 12,00, isto é, 30% a menos. O trigo custava R$ 22,00 em 2004 e R$ 19,00 em 2005. Em 2004, a mandioca era comercializada por R$ 160,00 a tonelada e, em 2005, R$ 85,00, o equivalente a uma queda de 53%. O leite, R$ 0,44 em 2004 e R$ 0,39 em 2005. O valor da carne bovina era de R$ 69,00 a arroba em 2004 e R$ 46,00 em 2005. Em 2004, a carne suína era de R$ 2,50 o quilo e baixou para R$ 1,55 no ano passado. O frango que, em 2004, era vendido a R$ 1,44 o quilo, teve o preço reduzido para R$ 1,24 no ano seguinte. Com isso, em 2004, o agronegócio gerou 271 mil empregos; em 2005, 220 mil empregos, com queda de 20% dos empregos gerados.
Aftosa
Outra razão apontada pelo senador para a crise é a hesitação dos governos federal e estadual na definição de medidas ante as suspeitas de existência de surtos de febre aftosa no Paraná. "O setor agropecuário vai entrar num processo de empobrecimento que, se não houver uma tomada de providências imediata, vai atingir todos os segimentos da economia brasileira", afirmou.
Osmar foi o autor do relatório sobre a medida provisória que abriu crédito extraordinário em favor dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no valor total de R$16,5 milhões, dos quais R$ 12 milhões serão destinados a indenizar e apoiar as famílias prejudicadas pela perda de rebanhos ou impedidas de vender seus produtos. O restante será gasto em campanhas de prevenção e erradicação da febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná.
"Já tivemos enormes prejuízos com a febre aftosa no Sul do país e em outros estados, como o Pará. Precisamos combater com mais eficiência a febre aftosa no nosso território", afirmou o senador, defendendo investimentos para a modernização no sistema de fiscalização sanitária do país. "Fiz vários alertas sobre a possibilidade de termos focos de febre aftosa no país e, inclusive, afirmei que a doença entraria no país pelo Paraguai, devido à falta de cuidado em relação à sanidade animal naquele país e em outros países do Mercosul. O Ministério da Fazenda não liberou os recursos previstos no orçamento e todos sabem o que aconteceu."
Segundo Osmar Dias, os recursos da MP previstos para indenização vão diminuir o impacto sofrido pelos pecuaristas, mas é preciso investir mais para a renovação do rebanho sacrificado e, preventivamente, na fiscalização. "Os pecuaristas paranaenses ainda sofrem as conseqüências do prejuízo causado pela febre aftosa, devido aos embargos à importação de carnes por parte de muitos países. Com a liberação desses recursos, será possível indenizar os produtores. Mas a indenização não cobrirá todos os prejuízos. Precisamos assegurar que haja vacinação e fiscalização para que os produtores voltem a comercializar a carne e retomem as exportações nos mesmos níveis", destacou o senador.
Para o pedetista, enquanto não houver uma política sanitária integrada no Mercosul, dificilmente o país conseguirá erradicar a aftosa. "Precisamos de mais recursos para garantir a vacinação de todo o rebanho e de um trabalho integrado entre os estados e países para a fiscalização", disse.