A nove dias de deixar a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes faz uma análise dos dois anos de seu mandato: “Estou como na canção de Piaf, ‘Je Ne Regrette Rien’: não me arrependo de nada.” Foram muitos os episódios polêmicos, as discussões públicas em que se envolveu e os julgamentos controversos que presidiu. “O Judiciário sai mais forte hoje do que antes da minha gestão e não ao contrário.”

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Mesmo sendo alvo de críticas, inclusive de um pedido de impeachment, diz que ajudou o governo Luiz Inácio Lula da Silva a “se aproximar mais de um modelo de Estado constitucional”. Como exemplo, citou a revisão da conduta “abusiva” da Polícia Federal (PF) e das advertências quanto à responsabilidade do Ministério Público (MP) e do governo na questão das ocupações de terra.

Porém, o presidente do STF – que se esquivou de responder se pretende seguir, depois de deixar a Corte, a carreira política (“Cada coisa no seu tempo”) – lamenta não ter interferido para manter no Brasil os dois boxeadores cubanos, Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, que abandonaram a delegação do país caribenho durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007 e foram deportados pelo governo Lula.

Mendes negou que tenha falado demais no cargo sobre temas em pauta no País. “Acho que falei o necessário”, afirmou. “A reforma do Judiciário e o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) exigem uma postura diferenciada do presidente do STF como líder que deve ser do Judiciário.”

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Ele também se negou a responder se está havendo antecipação de campanha por parte dos políticos. “Não vou falar sobre isso. Eu disse que, diante de uma decisão da Justiça Eleitoral impondo uma sanção a certa autoridade, esta autoridade não pode fazer brincadeira, deboche. Essa autoridade, a despeito de sua eventual contrariedade com a decisão, tem o dever de lealdade constitucional”, disse Mendes.