Para maioria, o PT é o fim de um sonho

Lucimar do Carmo / GPP

Plínio de Arruda Sampaio: futuro
do partido está em jogo.

Brasília – Atônitos, perplexos, desanimados e com os nervos à flor da pele. No Congresso, na semana em que as denúncias de corrupção atingiram o coração do Partido dos Trabalhadores, os deputados e senadores petistas acusaram o golpe. Uns chegaram a chorar, outros partiram para briga.

Alguns apelaram para a ironia, mas para a maioria pesou o sentimento de desalento do fim de um sonho. "Estou tão perplexa quanto todo mundo. Estamos tristes com o que assistimos, mas não permitiremos que os erros de alguns joguem por terra uma história de luta de 25 anos. Não dá para nivelar todo mundo por baixo. Isso seria muito injusto", lamenta a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA).

Alguns petistas já começam a temer até mesmo pelo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora a oposição insista na versão de que não trabalha por isso. Até agora, a avaliação dos principais líderes do PT no Congresso era a de que apenas a reeleição de Lula estaria comprometida com o envolvimento do chamado núcleo duro de seu governo, do qual participavam o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e o ainda ministro Luiz Gushiken, secretário de Comunicação do Governo, que pode deixar o cargo a qualquer momento.

Aos poucos, a tristeza toma conta até dos mais aguerridos defensores do governo, como o deputado Professor Luizinho (PT-SP). Desde o fim de semana passado, quando a revista Veja confirmou que Marcos Valério foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões no banco BMG, ele tem sido obrigado a debater com militantes de sua base em Santo André.

Durante a semana, Luizinho pedia calma aos colegas, tentava encontrar justificativas, mas ficou com os olhos cheios de lágrimas ao falar sobre o estado de depressão em que encontrou o amigo e presidente do PT, José Genoino. O líder do PT, Paulo Rocha, capitulou: "Estamos todos expostos".

Rocha marcou duas reuniões da bancada semana passada, canceladas por falta de quórum. Na CPI dos Correios e no Conselho de Ética da Câmara, o nervosismo dominou a bancada. Antes da acusação de ter sido uma das beneficiárias dos US$ 200 mil que seu ex-motorista teria pego em São Paulo com Delúbio Soares, a deputada Neyde Aparecida (PT-GO) já demostrava descontrole e bateu-boca com o deputado João Fontes (PDT-SE) na comissão. "Vá cuidar de seu partido. Temos honra e ainda bem que o senhor não está mais com a gente!", reagiu a deputada diante das provocações de Fontes, expulso do PT ano passado.

Alguns, como o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), por falta de uma explicação mais racional para a crise que o partido enfrenta, alimentada por uma sucessão de fatos reais e quase surrealistas – como a prisão do assessor do deputado José Guimarães, irmão de José Genoino, tem explicações que beiram a ironia: "Genoino está tendo um azar terrível". O problema é que todo este "azar" cai sobre o partido como uma bomba atômica.

Moderados pisam em ovos

Várias das lideranças do PT paranaense ligadas ao campo majoritário estão pisando em ovos sobre os desdobramentos da crise no partido. Único a participar do encontro da direção nacional ontem em São Paulo e um dos poucos a se manifestar sobre o assunto, o presidente estadual do partido, deputado André Vargas, reúne a executiva estadual amanhã, em Curitiba, para discutir a situação da sigla após a renúncia do deputado José Genoino à presidência nacional do PT.

Vargas disse que a saída de Genoino e de outros membros da direção nacional foi a consequência natural do processo. "Não se trata de um julgamento dos companheiros. Nós vamos continuar defendendo esses companheiros, mas se alguém, individualmente, fez alguma coisa errada, vai ter que ser responsabilizado", afirmou o dirigente petista, afirmando que não vai aceitar o julgamento de sua gestão no estado por um prisma nacional. "No PT do Paraná, as decisões não foram tomadas individualmente. Temos pessoas de todos os grupos no diretório estadual. Todas as decisões foram coletivas", afirmou. (Elizabete Castro)

Militância está triste e frustrada

Rio – O vermelho do PT está esmaecendo e sua estrela, perdendo o brilho. Pelo menos para jovens atores, atores, músicos, estudantes e integrantes de grupos religiosos que acompanham com perplexidade e tristeza o noticiário e as denúncias de corrupção contra o partido e o governo de Lula. Em carta a amigos, a estudante Karina Rocha, de 21 anos, expressa sua indignação: "Envergonho-me. Mas quem deveria se envergonhar é o 13!", diz no texto. Karina lamenta o envolvimento da cúpula do PT, mas ainda acredita na inocência em Lula: "Paguei pela carteira de filiação ao partido com dinheiro do meu primeiro emprego. Agora, minha fé no 13 está sendo jogada na lama", diz Karina, estudante de jornalismo.

Alan Valdívia, de 26 anos, estudante de direito, Lula se mostrou despreparado no cargo. "Votei no Lula, não queria que ele deixasse o governo nas mãos deles: de Delúbio, Genoino, Silvinho". Nos colégios do Rio, a apatia dos jovens em relação ao momento político é grande. Mesmo decepcionados com as denúncias contra o PT, ninguém pretende ir às ruas para dizer o que está pensando. Gabriela Santos Gomes, do grêmio do Pedro II, conta que o escândalo caiu como uma bomba para os alunos.

Do grêmio do Centro Educacional Anísio Teixeira (Ceat), Julia Jacobina, de 18 anos, cresceu vendo os pais votando no PT. Hoje, a mãe se sente traída pelo partido. "Fiquei desiludida. Hoje anularia meu voto." A atriz Thaís Lopez, de 27 anos, diz que ainda tem esperança.

Alas minoritárias juntam os cacos

Elizabete Castro

Depois da renúncia do presidente nacional do PT, José Genoino, anunciada ontem, as alas adversárias do campo majoritário (correntes Articulação e Unidade na Luta que controlam nacionalmente a sigla) estão abrindo a discussão sobre o futuro do partido no estado e as condições de sobrevivência pós-escândalo provocado pelas denúncias do "mensalão".

O primeiro debate do processo de eleição direta para o diretório estadual entre os sete candidatos está marcado para 5 de agosto – a eleição está marcada para 18 de setembro ,- mas os grupos que disputam o controle do partido com o atual presidente, André Vargas, não estão dispostos a esperar até lá para expor as feridas da fase mais difícil enfrentada pelo partido nestes vinte e cinco anos.

A esquerda petista quer começar já um ciclo de depuração e se opõe ao adiamento do processo de eleição direta, sinalizado ontem no encontro do diretório nacional em São Paulo. A deputada federal Clair Martins, que este ano rompeu com a corrente majoritária, acha que a saída está numa mudança geral no partido. A deputada, que apoia a candidatura do deputado estadual Tadeu Veneri para a presidência estadual e a de Plínio de Arruda Sampaio para o diretório nacional, defende uma revisão da concepção não só do partido, mas também do governo.

"O papel do partido era ajudar a implementar um projeto de desenvolvimento para o país. O governo se afastou deste projeto e o partido não fez o seu papel de trazê-lo de volta. Houve uma decepção com o governo Lula. Mas ainda é tempo de corrigir", acredita Clair. Ela avalia que a imagem do PT como uma sigla historicamente identificada com os trabalhadores é mais forte do que os erros de algumas pessoas do partido. "A direção do partido está na contramão. Precisamos de uma recomposição geral da direção porque o partido precisa continuar", disse.

Um dos candidatos à direção estadual, o deputado Dr. Rosinha, avalia que o partido já sofreu um dano irreparável e superar a crise implica identificar os responsáveis por ela. "Nós precisamos falar sobre tudo isso e agora. E partir para uma discussão sobre quem é quem no PT", afirmou Rosinha, deslocando a discussão do plano nacional para o estadual. "No Paraná, nós temos o mesmo grupo político que domina o partido nacionalmente. A mesma maioria que controla o diretório nacional é a mesma do grupo do André Vargas", afirmou.

Para o deputado Tadeu Veneri, no plano estadual, o partido tem que fazer uma reflexão sobre como foram conduzidas as campanhas eleitorais no ano passado e sobretudo, resgatar o debate sobre as alianças feitas em 2002. Para o deputado petista, a solução não está apenas na troca da direção partidária, mas na adoção de novas práticas internas, que vão desde formas de financiamento de campanha até a formação ideológica da militância.

 

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