O senador Walter Pinheiro (BA), líder do PT no Senado, acredita que a crise de interlocução entre o governo e sua base aliada no Congresso está sendo debitada indevidamente na conta da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. “Como diz o nosso velho e bom Chico Buarque, fazendo uma analogiazinha, é o ‘joga pedra na Ideli’. É fácil fazer isso (neste momento de crise entre o governo e sua base aliada no Congresso), responsabilizá-la (para encontrar um culpado)”, lamentou o senador em entrevista exclusiva ao Grupo Estado.

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Para o senador, desde que assumiu a função no lugar do ex-ministro Luiz Sérgio (PT-RJ) em junho passado, Ideli tem aprimorado o diálogo com os parlamentares, estabelecendo, inclusive, uma agenda de reuniões semanais com as lideranças partidárias. Em sua opinião, pior que o problema de interlocução do Planalto com a base, era a relação conflituosa entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e a bancada peemedebista, que não se sentia representada por ele. “Obviamente todo mundo debita na conta de Ideli porque ela é a responsável pela interlocução”, concluiu.

Pinheiro admitiu que o governo Dilma Rousseff se equivocou no início de sua articulação política com o Congresso Nacional, particularmente com a concentração da comunicação nas mãos do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci e o esvaziamento das Relações Institucionais do então ministro Luiz Sérgio. Para ele, o governo agora precisa mudar a forma de tratar a base e buscar novas formas para resolver a crise com os aliados. “Mesmo que seja para dizer não(à base), mas tem de dizer. O silêncio ou o desprezo é pior do que qualquer coisa”.

O senador petista recomendou que Ideli trabalhe para acabar com os “ruídos” na comunicação e coloque os ministros que evitam atender os parlamentares em linha direta com o legislativo. “A ministra tem de puxar a orelha dos ministros. Essa é uma das tarefas dela”, afirmou. De acordo com o senador, é recorrente as reclamações sobre ministros que “fogem” das conversas pessoais com os parlamentares. “No Senado são 81. Atender a 81 ligações não mata ninguém”, frisou. As exceções, de acordo com Pinheiro, seriam os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação), Mendes Ribeiro (Agricultura) e Garibaldi Alves (Previdência). “Nunca vi ninguém reclamar de Garibaldi”, emendou.

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O petista disse ainda que pretende trabalhar em conjunto com a ministra Ideli e com o novo líder do governo na Casa, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), para “azeitar” a comunicação entre o governo e o Senado. A ideia é trazer os ministros para dialogar diretamente com os senadores uma vez por semana, numa espécie de “plantão do ministro”. “(Tem que acabar) Essa história de que ministro não vai (ao Congresso), qual é o problema? Seja para projeto, seja para programa, para responder a acusação… Qual é o problema? Ministro não pode ter medo de ir à Casa legislativa”, disse. “Comigo não tem essa história de blindagem. Ministro tem de se dispor a isso (ir ao Congresso)”, completou, destacando que inclui também o ministro da Fazenda, Guido Mantega, até mesmo porque a economia está sempre sob intenso cuidado do governo.