Para FHC, Brasil perdeu um ano e meio

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em Curitiba, que o Brasil perdeu um ano e meio em seu desenvolvimento. “Estamos voltando agora ao que era no início de 2002, pelos indicadores”, afirmou a cerca de 3 mil empresários dos setores de comércio atacadista, reunidos em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Segundo ele, no Brasil há freqüentemente interrupções na caminhada. “O País parece que cansa de um certo ritmo e quer o milagre”, criticou. “E isso é um sinal de falta de amadurecimento da sociedade”.

Ele citou seu próprio exemplo, quando na Presidência da República. “O ano de 2002 foi dificílimo porque havia a sensação de que o Brasil iria fazer uma ruptura. Não houve ruptura e perdemos 2003”, lamentou. De acordo com ele, acreditou-se que era possível fazer uma “pirueta”. Por isso, pediu que as lideranças – “e eu me incluo entre elas” – mostrem resultados. “E não fiquem dando a ilusão de que vai mudar tudo, que vai fazer um milagre, que vai mudar tudo, que vai ser maravilhoso, porque não vai. Daqui a 30 anos pode ser”, acentuou.

O ex-presidente mostrou-se otimista ao afirmar que o País tem internamente um cenário positivo para o crescimento. “Nossa perspectiva de crescimento depende da educação, da capacidade de cumprir os contratos e de a sociedade se organizar”, enumerou. Ele elogiou, principalmente, a ação de empreendedorismo da iniciativa privada. “O Brasil cresce com trabalho, melhora a educação com trabalho, a tecnologia com trabalho, a empresa com trabalho, a capacidade de organizar é com trabalho”, insistiu.

Segundo Fernando Henrique, as preocupações que o Brasil deve ter internacionalmente são com a China que, segundo ele, tende a frear sua expansão, e os Estados Unidos, que podem aumentar a taxa de juros em razão do déficit comercial. “Mas não podemos controlar isso e não vamos sofrer por antecipação”, ponderou.

Na avaliação de FHC, internamente, o desafio que se coloca neste momento é encontrar um mecanismo para “desafogar” a alta carga tributária do País, por meio de uma ampla discussão do assunto. Ele assumiu ter contribuído para esse aumento. “O governo se manteve com aumento de tributo, porque tinha dívidas, tinha demandas”, reconheceu. “Mas chegou ao limite e é preciso encolher.” Além disso, ele também colocou como gargalo para o desenvolvimento a obtenção de capital de longo prazo com juros razoáveis. “É difícil, mas vai ter que ter.” Para FHC, será preciso vencer igualmente a questão da segurança. “É complexo pois envolve droga, contrabando, mas é um desafio.”

Ao ser apresentado pelo presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores, Paulo Hermínio Penacchi, FHC ouviu um apelo para que em 2006 retorne à Presidência da República, mas ao final, em entrevista, o ex-presidente descartou essa possibilidade.

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