Para construir um fato político com poder de tirá-lo da cadeia, o governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), pediu ontem o adiamento do julgamento do habeas-corpus, que estava agendado para hoje. A solução passa pela renúncia de Arruda – hipótese mais provável hoje – ou por licença até o fim das investigações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF).
O gesto, discutido pelo governador afastado com seus advogados na noite de terça-feira, na cela da Superintendência da corporação, pretende mostrar aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – propensos a manter Arruda na cadeia – que longe do cargo, seja na hipótese de uma renúncia ou licenciado, ele não poderia mais obstruir as investigações, fato que motivou a prisão.
Nos últimos dias, o advogado Eduardo Alckmin, que faz parte do corpo de defesa de Arruda, procurou políticos influentes do Congresso – alguns com experiência de investigados por Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) e pela PF – para obter um diagnóstico sobre as chances de sobrevivência do governador.
Na avaliação desses “consultores” de crise, uma investigação como a Caixa de Pandora produziria efeitos muito mais devastadores para Arruda, se somada às apurações de uma eventual CPI na Câmara Legislativa, ameaça que paira sobre a cabeça do chamado chefe do “Mensalão do DEM”. Para não abrir essa segunda frente de investigação, só restaria a renúncia. E essa hipótese é a mais forte hoje.
Pelo cronograma da Câmara Legislativa, Arruda tem cerca de 20 dias, até meados de março, para renunciar sem sofrer os efeitos de um impeachment – a perda de direitos políticos. A eventual renúncia de Arruda acrescenta incerteza ao quadro sucessório do DF, uma vez que há dúvidas sobre a legalidade de um governo a ser chefiado até o fim do mandato pelo deputado distrital Wilson Lima (PR). Com isso, as chances de intervenção federal no DF aumentariam.