O ex-governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB), responsabilizou a União pela venda “equivocada” do terreno que era ocupado até esta terça-feira, 17, por ativistas e famílias no Cais José Estelita, na região central do Recife. “Houve uma venda, a nosso ver, completamente equivocada feita pela SPU (Secretaria do Patrimônio da União), sem a discussão necessária, de um terreno central da cidade”, disse Campos a jornalistas. “(Esperamos) que a União nunca mais venda um terreno numa dimensão dessas sem um plano diretor”.
O pessebista criticou ainda o processo de aprovação do projeto das construtoras que compraram o terreno, em uma licitação que segundo ele ocorreu em 2008. “Foi aprovado um projeto sem um processo de participação popular efetivo.”
O ex-governador eximiu sua gestão no Palácio Campo das Princesas de responsabilidade sobre a negociação. “Aquele terreno era do governo federal. Nunca o governo do Estado foi instado a receber aquele terreno da União ou mesmo comprar, ainda que de forma parcelada.” Ele elogiou as tentativas de negociação do prefeito do Recife e seu correligionário, Geraldo Júlio. “O prefeito buscou as entidades, mesmo o processo tendo sido judicializado”.
Com relação ao atual governador João Lyra Neto, seu correligionário que o sucedeu no governo, mas não foi indicado para disputar a sucessão nas urnas, Campos preferiu não fazer uma avaliação. Disse apenas que, quando era governador, tinha implementado um protocolo de como fazer reintegrações de posse, com diálogo com os movimentos sociais e filmagens que protegessem tanto a população alojada nos terrenos como os policiais que agem nas reintegrações. “Agora é questão de fazer o diálogo daqui para frente”, desconversou.
Campos, contudo, firmou a posição de que, se houve abuso, “como parece ter sido o caso”, deve ser apurado “na forma da lei”. “O governo deve apurar os atos de violência, se é que eles ocorreram, no cumprimento de uma ordem judicial”, afirmou.
A reintegração de posse do terreno no Cais José Estelita ocorreu na manhã de ontem, quando a PM deteve ao menos seis pessoas e várias ficaram feridas. A polícia agiu com Tropa de Choque, Cavalaria, Canil, usou bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha. A ação foi condenada pelo Ministério Público Federal que disse, em nota de repúdio, considerar a ação “arbitrária e com medidas típicas de cumprimento de ordens contra criminosos”.
Desde o dia 21 do mês passado, ativistas – a maioria estudantes e profissionais liberais – ocupavam a área onde um consórcio de empreiteiras – integrado pela Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos – pretende implantar o projeto imobiliário Novo Recife, com investimento de R$ 800 milhões que inclui 12 torres de até 40 andares e área de estacionamento para cinco mil veículos. A obra está embargada judicialmente. (colaborou Angela Lacerda)