Pancadaria na diplomação dos eleitos

A troca de socos e empurrões entre deputados e manifestantes foi o ponto alto da sessão de diplomação dos 54 deputados estaduais, trinta deputados federais, senador, governador e vice-governador eleitos em 2006, no grande auditório do Teatro Guaíra. Um grupo de cerca de 250 manifestantes, que foram protestar contra o aumento dos salários dos deputados federais e estaduais, cercaram as entradas de acesso ao Guaíra já durante a chegada dos eleitos e passaram a gritar palavras como ?ladrão? e ?sem vergonha?, entre outras.  

Os manifestantes foram impedidos de entrar no teatro, com faixas onde estava escrito ?mensaleiros? e exibindo o popular nariz de palhaço. O movimento continuou em frente ao teatro durante as quase três horas de solenidade e o confronto foi inevitável na saída, quando alguns deputados acabaram agredindo participantes do protesto, que os seguiam pela rua, com apitos e cornetas e palavrões. Outros ficaram sitiados no Guaíra, à espera de uma trégua. Aqueles que se arriscaram a olhar pelas janelas, foram brindados com ovos e xingamentos variados.

Foto: João de Noronha/O Estado
Na saída do teatro, houve troca de socos, empurrões e agressões.

A Polícia Militar fez um cordão de isolamento na principal saída do teatro, mas não foi suficiente para evitar as agressões. O primeiro a se atracar com um manifestante foi o deputado Max Rosenmann (PMDB), que reagiu aos insultos e desferiu um tapa em uma mulher. O segundo foi o deputado federal eleito Reinhold Stephanes (PMDB), que também esbofeteou uma outra manifestante. ?Apenas reagi. Protestar é uma coisa. Agredir é outra e eu não poderia aceitar?, disse Stephanes, que foi obrigado a voltar para o hall de entrada do teatro e saiu escoltado pela polícia. No meio do tumulto, o deputado estadual Antonio Anibelli (PMDB) resolveu se aventurar e apesar de inicialmente ter dito que respeitava a manifestação, sucumbiu às provocações e deu um soco em um manifestante. ?Acabei de dar um tapa num vagabundo?, disse o deputado, enquanto era seguido por um grupo durante uma quadra até o seu carro.

O vereador e deputado estadual eleito Fábio Camargo (PFL) envolveu-se no episódio mais violento. Ele deixava o teatro na companhia da esposa, quando ela foi atingida por um ovo. O deputado esmurrou um dos manifestantes. ?Eu já tenho o pavio curto e perdi a cabeça. Porque uma agressão contra mim, não reagiria. Mas com a minha esposa não admito. Foi horrível?, disse Camargo.

Outro mundo

No auditório lotado do Teatro Guaíra, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Clotário de Macedo Portugal Neto, abriu a solenidade, afirmando que o local e o momento eram impróprios para manifestações. Dentro do Teatro, tudo ocorreu como se nada estivesse acontecendo lá fora. Faltaram sete deputados estaduais e sete deputados federais. Na saudação aos eleitos, o juiz do TRE Renato Cardoso de Almeida Andrade falou da responsabilidade dos deputados e dos desafios que terão pela frente: ?o exigível resgate do poder legislativo, maculado por aqueles que desonraram a escolha com que foram agraciados pela sociedade, violando os preceitos de ética e probidade?.

O governador Roberto Requião (PMDB) e o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) deixaram o teatro por uma saída alternativa. Em entrevista, antes da solenidade, Requião disse que a origem do problema gerado pelo aumento dos salários está no Judiciário. ?Temos que rever tudo a começar pelo salário teto que é o salário do Judiciário. O parlamentar não é a Geni. É sem vergonha porque andou nas mesmas águas do Judiciário, mas sem o teto do Judiciário não teriam elevado nada?, declarou o governador.

Origem

Segundo um dos manifestantes, o estudante de Administração Asaph Eleutério Cardoso, a idéia do protesto surgiu em uma comunidade de discussão do site de relacionamentos Orkut, cujo nome seria ?Fórum Brasil – Não ao aumento de salários?. Segundo ele, vários movimentos populares se uniram para protestar contra a decisão do Congresso Nacional e da Assembléia Legislativa. ?Estamos aqui manifestando nossa indignação contra o aumento dos salários dos parlamentares. É um absurdo?, explicou.

O agente cultural da Fundação Cultural de Curitiba Carlos Castorino Rodrigues afirmou ter sido agredido pelo deputado Anibelli. ?Eu não vim para a manifestação. Estava passando por aqui quando vi o tumulto?, disse. Segundo Rodrigues, ele somente teria afirmado a Anibelli que o povo estava indignado com o aumento dos salários. ?Não vou prestar queixa.?

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