País repatriou 1% do dinheiro de corrupção, diz delegado

O Brasil repatriou pouco mais de 1% do dinheiro de “corruptos” que conseguiram levar seus recursos desviados a bancos no exterior. Os dados são do delegado Ricardo Andrade Saadi, o diretor do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, que coloca em dúvida a capacidade de o Brasil recuperar o dinheiro desviado e identificado na Operação Lava Jato no curto ou médio prazo.

Sua avaliação é clara: a Justiça não tem atuado na mesma velocidade do bloqueio de recursos e a recuperação de ativos aos cofres públicos tem sido prejudicada. “Os processos existentes no Brasil conseguiram o bloqueio de cerca de R$ 3 bilhões”, declarou Saadi. “Mas conseguimos repatriar apenas R$ 40 milhões”, indicou. O diretor não mede críticas à Justiça, apontando que os processos estão hoje levando “dez, quinze ou vinte anos”.

Nos últimos 5 anos, o Brasil proliferou acordos de cooperação judicial com vários países. Os entendimentos permitiram que troca de informações ocorressem em maior velocidade, o que acabou resultando em um número maior de contas bloqueadas e o envio de extratos bancários dos suspeitos.

Como modo preventivo, o Ministério Público de vários países passou a agir no sentido de bloquear os fundos dos brasileiros sob suspeita. Saadi, porém, alerta que o dinheiro repatriado por enquanto em todos os casos foi apenas dos processos que foram julgados e condenados no exterior, e não porque eles tiveram um desfecho na Justiça brasileira. Países com a Suíça exigem que um suspeito seja julgado em pelo menos duas instâncias para liberar o dinheiro para que volte aos cofres públicos. No caso do ex-prefeito Paulo Maluf, por exemplo, não foram suas condenações no Brasil que contaram para que o dinheiro fosse repatriado. Mas sim o processo que tramitou nas cortes de Jersey.

Petrobras

Saadi também não vê com otimismo a recuperação dos recursos desviados e descobertos na Operação Lava Jato. “Quanto tempo vai levar para essas pessoas de fato serem condenadas?”, questionou. Só na Suíça, cinco contas em nome do ex-executivo da Petrobras Paulo Roberto Costa foram descobertas com mais de US$ 26 milhões, hoje congeladas. Em uma recente visita à Lausanne, procuradores brasileiros ouviram dos suíços que o dinheiro será devolvido ao Brasil, inclusive porque faz parte do acordo de delação de Costa.

Mas Saadi alerta que isso não significa que o Brasil voltará aos cofres públicos imediatamente. “Trata-se apenas de uma mudança de quem está bloqueado o dinheiro”, explicou. Entre as condições impostas pelos suíços está a exigência de o dinheiro fique em uma conta sob controle do Supremo Tribunal Federal. “Até quando esse dinheiro ficará bloqueado? E o que vai acontecer se não houver uma condenação?”, questionou. “Isso pode inclusive prejudicar futuras cooperações”, apontou.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna