Dois dias após a divulgação do primeiro relatório parcial conjunto das comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMI) dos Correios e da Compra de Votos, o relator da primeira, deputado Osmar Serraglio (PMDB) preferiu não dar palpites sobre a possibilidade de cassação de qualquer dos 18 deputados federais citados como passíveis de punição, inclusive os paranaenses José Borba (PMDB) e José Janene (PP).
Para ele, a unanimidade na aprovação do relatório é indicativo, inclusive para o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalvanti, de que "não há resistências que possam conter providências de depuração do Congresso Nacional". Serraglio disse que a CPMI dos Correios continuará investigando os parlamentares acusados de envolvimento no mensalão e que deve, agora, "se concentrar nos corruptores e mostrar à população de onde vêm os recursos".
As suspeitas recaem principalmente sobre os fundos de pensão. O relator garantiu que os envolvidos não devem sair impunes, mas evitou falar em cassação: "Nós identificamos no parecer responsabilização criminal e improbidade administrativa, a decisão de cassar cabe ao Conselho de Ética. Não fizemos nenhuma tabulação, exclusão ou inclusão para evitar exatamente aquilo que o ex-ministro José Dirceu está dizendo: que nós pré-julgamos."
Dirceu não foi poupado por Serraglio: "O meu convencimento é que havia um jogo. Quem jogava pelo governo? Nós continuamos vendo só o corrupto, não estamos vendo o corruptor. Quem é esse que está entregando? É o José Dirceu?", questionou. "O Marcos Valério não ia dar dinheiro para os deputados, o PT não ia dar dinheiro para os deputados. Quem tinha que se beneficiar com os votos era o governo."
Outros nomes
Sobre os paranaenses listados, Serraglio acredita que existe muito pouco: "No caso do Janene, existe uma repetição de saques em que a pessoa que sacava dizia que recebia, identificava o local e a quem levava". Sobre Borba, Serraglio afirma que só é identificado no depoimento de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério. "Ela teria recebido um telefonema dizendo que o Borba tinha se recusado a assinar e que por isso ela foi lá assinar. Mas afirmou que nunca o viu", recorda.
Isso, em sua opinião, poderia ter pautado o posicionamento de Severino Cavalcanti ao defender punições mais brandas para os denunciados: "Só que juízo político tem que estar muito mais próximo do juízo da opinião pública", pondera, ajuntando que "as ameaças estão no ar. Quem tem rabo preso tem que se cuidar, e a gente não sabe quem tem rabo preso. Se o Jefferson e o Janene dizem que vão abrir a caixa-preta do mensalão, a gente não sabe se o Severino está ou não cativo a isso. E no depoimento do Roberto Jefferson ele insinuou, muito de leve, que a eleição do Severino foi uma conseqüência do mensalão", despejou.