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Orgulho de sargento, prisão de ladrões é raridade

O sargento Alan Mauro Gemelgo chegou às 5h30 ao antigo casarão que abriga a sede da 3.ª Companhia do 11.º Batalhão da Polícia Militar, nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. Duas dezenas de policiais se reuniam no lugar para ouvir a preleção diária com as orientações para o patrulhamento. Era dia de Operação Pinçamento, blitze relâmpagos em busca de armas ilegais, drogas e carros roubados. O sargento ia comandar uma delas, na Rua Gabriel Monteiro da Silva.

“Faz uns 9 meses, quando o 190 (Centro de Operações da polícia) informou que ladrões haviam baleado um senhor de 70 anos. Eu estava a duas quadras dali e cheguei em 3 minutos”, começa a contar o sargento enquanto se prepara para o trabalho. Quando chegou ao local, dois médicos já socorriam a vítima. O PM olhou uma pessoa parada ali e a interpelou: “O que você viu?” O homem disse que os ladrões haviam fugido em um Peugeot e que anotara os números da placa. O sargento avisou a central da PM, que passou a buscar o carro pelos radares da cidade. Ele foi detectado na Vila Prudente, na zona leste. E os bandidos, cercados e presos. “Tenho um grande orgulho disso.”

O que é o orgulho do sargento é também a pedra no sapato da maior polícia do País (85 mil PMs e 29 mil policiais civis): mandar para cadeia os autores de roubos, aumentando o índice de esclarecimento desse crime e, assim, conseguir reduzi-los. Em 2017, o Estado contou 32,9% roubos comuns a mais do que em 2001. “O crime de interesse em 2019 será o roubo. É preciso descobrir uma maneira de alocar o efetivo da PM rápido em cima da mancha criminal. Isso envolve uma decisão que afeta todo o Estado”, afirmou o professor do Núcleo de Políticas Públicas da USP Leandro Piquet. Dos crimes violentos, além dos homicídios, os sequestros e os latrocínios caíram. Roubos e estupros aumentaram no Estado.

Minucioso e concentrado, Gemelgo parou a viatura e dispôs os cones na rua. Acoplou a submetralhadora calibre 9 mm à bandoleira. Ele e os colegas estenderam o bloqueio. Era 11 de julho. Em duas horas, abordaram 35 carros e aplicaram quatro multas, recolhendo dois carros. Nenhuma arma, droga ou veículo roubado foram achados.

Para Piquet, é contra o comércio desses veículos e de outros objetos roubados que a polícia e o legislador devem se voltar. Ele defende medidas duras contra os receptadores e o uso de ferramentas digitais que bloqueiem os telefones levados por ladrões – o celular é o principal objeto roubado no Estado (32% do total de ocorrências). “A Polícia Civil deve investigar o padrão desses crimes e dizer quais os nichos e contextos que você pode atuar”, afirmou. Piquet lembrou que “a gente venceu os homicídios porque fez duas coisas: ajustes no policiamento ostensivo e na investigação”.

Investigação

Exemplo de como o Estado vive situações distintas para cada crime é a comparação do índice de esclarecimento desses delitos, ou seja, quantos roubos e quantos homicídios têm seus autores identificados pela polícia. Em 2017, a Polícia Civil registrou na capital 151.244 roubos. E só 3.111 foram esclarecidos (2%). E a maioria dos esclarecimentos é resultado de prisões em flagrante feitas, geralmente, pela PM – 2.490 dos casos esclarecidos foram registrados nos distritos policiais que recebem as prisões em flagrante.

Para o pesquisador Túlio Kahn, uma forma de aumentar esse índice seria apurar os crimes cometidos por quem foi preso em flagrante, convocando, por exemplo, vítimas de outras ocorrências para reconhecer o bandido. “Às vezes, a polícia prende um cidadão, que é responsável por dez roubos, mas não apura.”

No caso dos homicídios, a situação é diferente. A cidade contou 713 assassinatos em 2017, dos quais 161 foram esclarecidos pelos distritos policiais. Aqui, entram os casos em que o criminoso era conhecido da vítima ou foi pego em flagrante. A autoria de outros 227 homicídios foi estabelecida por meio de investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Assim, o índice de esclarecimento de homicídios foi de 54,4%, acima da média nacional (8%) e perto da média americana (60%).

Os analistas ouvidos afirmam que a diferença entre as taxas de esclarecimentos de roubos e homicídios são um fator importante para se explicar por que o primeiro aumentou de 2001 para cá e o segundo caiu. “Qual o problema da Segurança? São as tiranias armadas, formadas tanto na polícia quanto no tráfico, grupos que passam a usar a violência para impor a ordem nos bairros em benefício próprio. O que deve ser priorizado? Em São Paulo, você tem o maior mercado consumidor de drogas do País. Não se acaba com esse mercado, mas você pode evitar que ele seja violento”, disse o pesquisador Bruno Paes Manso.

Para conter a violência do tráfico, a estratégia da polícia foi a operação saturação. Áreas com muitos homicídios foram ocupadas pela polícia, fazendo com que o tráfico perdesse dinheiro. “Passou a ser mau para os negócios agir com violência”, disse Paes Manso. O desafio dos chefes do sargento Gemelgo é dar condições para que a dedicação de policiais como ele consiga tornar o roubo um mau negócio para os bandidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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