A oposição resistiu, mas acabou decidindo encabeçar a apresentação de uma representação no Conselho de Ética do Senado contra o líder do governo na Casa, Delcídio Amaral (PT-MS).

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Diante da possibilidade de o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Operação Lava Jato, protelar o acionamento do colegiado para dar início ao processo de cassação do mandato, partidos de oposição decidiram esperar até terça-feira para agir. Antes reticentes, líderes de PSDB, DEM, PPS e Rede conversaram na tarde de ontem e traçaram o “plano B” por “prudência”, como disse um dos líderes.

Aliados de Renan o aconselharam a protelar ao máximo a representação contra o senador preso na manhã de anteontem, após ser flagrado em uma gravação articulando um plano de fuga para Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás preso desde janeiro, para impedir que ele fechasse acordo de delação premiada.

“Se a Mesa não fizer a notificação da decisão do plenário ao Conselho de Ética, vamos fazer na terça-feira”, disse o líder o PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). Para ele, não é necessário esperar a denúncia da Procuradoria-Geral da República, pois as provas já reveladas são suficientes para que façam a representação.

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Horas antes, no entanto, a postura da cúpula tucana era de cautela. “Estamos aguardando que a presidência do Senado Federal faça o que achar mais adequado”, disse o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), no início da tarde de ontem. Questionado sobre a possibilidade de Renan não acionar o conselho, o tucano disse que, só então, discutiriam o assunto. “(Se Renan não representar), aí vamos discutir se nós o faremos, o conjunto das oposições. Mas me parece que este começa a ser consenso no Senado Federal: o comunicado feito ao Supremo chega também ao Conselho de Ética”, afirmou Aécio.

Amizade

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Nos bastidores, deputados e senadores de oposição diziam que, por amizade, ninguém queria dar início ao processo de perda de mandato do petista. Considerado “o mais tucano dos petistas”, Delcídio já foi filiado ao PSDB e ocupou uma diretoria da Petrobrás durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. “Do ponto de vista pessoal, lamento a prisão do senador Delcídio. Mas, do ponto de vista institucional, ela me pareceu necessária”, afirmou Aécio. “Nem nós da oposição poderíamos imaginar o tamanho dessa máfia, ninguém poderia pensar isso do Delcídio”, declarou o tucano em entrevista à Rádio Jornal, do Recife.

Após reunião da executiva do PSDB, Aécio Neves também cobrou nesta quinta um posicionamento da presidente Dilma Rousseff sobre a prisão do líder de seu governo no Senado. Ele classificou o silêncio de Dilma como algo “extremamente grave e incompreensível” diante das denúncias. “É incrível que a presidente da República não se manifeste, como se não tivesse absolutamente nada ver com isso, como se os delatores presos, réus confessos e já condenados, como o caso do Cerveró, não tivessem sido indicados pelo seu governo.” O senador lembrou do período eleitoral para fazer críticas à presidente. “A presidente da República, tão afeita, na época eleitoral, às cadeias de rádio e televisão para comemorar qualquer feito ou suposto feito do seu governo, é incompreensível e reprovável que ela não olhe nos olhos dos brasileiros, em primeiro lugar, para admitir a sucessão de equívocos do seu governo, e, agora, para explicar aos brasileiros a sua responsabilidade em relação a estas denúncias.”

Aécio também reprovou a nota divulgada pela cúpula do PT, eximindo-se de prestar solidariedade ao congressista. “Um dos mais sórdidos documentos que demonstram a falta de coragem de um partido político que é o primeiro a virar as costas para o seu líder”, disse o senador. “A nota lançada pelo PT, além de inoportuna e covarde, como disse o presidente do Senado (Renan Calheiros, PMDB-AL), vai ficar escrito como um dos mais deprimentes momentos deste parido que, na minha avaliação, vive seu estertores”, completou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.