A bancada de oposição ao governo do Paraná na Assembléia Legislativa irá apresentar, na próxima segunda-feira (15), um requerimento à Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social, pedindo informações sobre as viagens realizadas pelo funcionário José Carlos Becker de Oliveira e Silva. Zeca Dirceu, como é conhecido o filho do ministro da Casa Civil, José Dirceu, é acusado de negociar cerca de R$ 607 mil do Orçamento da União para cidades da região noroeste do Paraná, onde tem sua base eleitoral.

“Queremos saber se é funcionário, qual a sua função, os roteiros das viagens que realiza, quem paga as diárias, qual o interesse e o resultado das viagens tanto terrestres quanto aéreas”, enumerou o líder da oposição, deputado Durval Amaral (PFL). “Queremos saber se há uso da máquina pública em interesse particular.”

Amaral disse estranhar que “alguém nomeado para uma função específica da secretaria possa viajar tanto e, se valendo do prestígio, instrumentalizar a própria campanha”. “É mais estranho porque o tráfico de influência foi tão denunciado pelo PT no passado.”

O filho do ministro já foi candidato a vereador de Cruzeiro do Oeste, onde é presidente do PT, e concorreu, na última eleição, a uma vaga na Câmara dos Deputados. Este ano, pleiteia a candidatura a prefeito do município, que tem cerca de 21 mil habitantes. Donizete Lopes, assessor do pré-candidato a prefeito pelo PSDB, José Ivan Pinheiro, disse que o tráfico de influência do adversário é conhecido na região. “Mas a gente não quer falar porque acreditamos que ele deve se prejudicar sozinho. É muito inexperiente”, afirmou.

Com 26 anos, Zeca diz ter começado a atuar politicamente com 16 anos, na liderança estudantil. No ano passado, ganhou uma ajuda extra com a visita do pai a Cruzeiro do Oeste, onde José Dirceu fez reuniões políticas e participou de um comício para cerca de 5 mil pessoas. Na ocasião, o ministro da Casa Civil disse que tinha ido à cidade apenas em razão do aniversário de Zeca e pela ligação sentimental que tem com Cruzeiro do Oeste, onde se abrigou ao retornar clandestinamente do exílio em Cuba na década de 70. Durante a visita, ele fez questão de afirmar que não misturava “as coisas de pai e político”. Mas as bolas de futebol distribuídas fartamente às pessoas que participaram do comício traziam a inscrição: “De pai para filho”. Como coordenador do escritório da Secretaria do Trabalho na região noroeste do Estado, Zeca recebe R$ 2.550,00 por mês, valor pago ao cargo em comissão DAS-5.

Ontem, o secretário padre Roque Zimmermann disse que não há nenhuma queixa contra o trabalho do filho do ministro. “Eu estava sabendo (das viagens a Brasília) e aprovava”, afirmou o secretário. Ele disse, no entanto, que não sabia com quem ele conversava em Brasília ou que utilizasse o nome do pai. “O importante era ter os canais para trazer dinheiro ao Estado”, acentuou. “E todos os recursos são para geração de renda e emprego.” O secretário disse que somente poderá fornecer os dados que os deputados pedirem referentes ao trabalho de Zeca na secretaria. “O que faz fora do expediente eu não posso reclamar”, ponderou. (AE)

“Vou manter o trabalho”

Brasília (AG) – Em entrevista à rádio Inconfidência, de Umuarama, interior do Paraná, José Carlos Becker, filho do ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse que vai continuar a trabalhar pela liberação de recursos de emendas parlamentares e até com mais entusiasmo. Segundo ele, é um trabalho legítimo e é um direito da região que ela seja atendida pelo governo. Zeca disse que atendeu com muito prazer o pedido das prefeituras e garantiu que não pediu nada pessoal para si nem fez tráfico de influência.

“Reivindiquei e continuarei reivindicando. Tenho legitimidade para isso. Tenho uma atuação política desde os 16 anos de idade. Não tenho privilégio ou tráfico de influência. Vou a Brasília também como ia em governos anteriores. O trabalho que faço é honesto, legítimo, para atender aos interesses da população carente. Faço tranqüilo e com serenidade. Tenho um histórico de dez anos de conduta política e movimento estudantil combatendo a corrupção. Quando um prefeito me leva e me mostra a carência, não consigo ficar indiferente. Eu me engajo nessa luta e vou continuar defendendo pessoas carentes”, afirmou o filho do ministro, que considera que os ataques que ele recebeu têm o objetivo de prejudicar seu pai.

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