Lideranças da oposição e de partidos governistas avaliaram, reservadamente, que a defesa que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende apresentar ao Conselho de Ética da Casa e ao Supremo Tribunal Federal (STF) é “inconsistente” e “absolutamente frágil”. Para parlamentares ouvidos pelo Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, sob condição de anonimato, os argumentos antecipados pelo peemedebista e já divulgados pela imprensa nos últimos dias “não convencem” e não dão tranquilidade para Cunha seguir no cargo.
Como publicou o jornal O Estado de S.Paulo nesta sexta-feira, 6, o presidente da Câmara deverá afirmar ao Conselho de Ética que desconhecia a origem do depósito de 1,3 milhão de francos suíços em 2011 em seu favor num fundo da Suíça e que todo o dinheiro que tem fora do País é fruto da venda de carne enlatada para África e de operações no mercado financeiro. O peemedebista é acusado de ter contas secretas na Suíça, por meio das quais teria recebido dinheiro de propina de desvios de contratos na Petrobras, e patrimônio não declarado no exterior.
Para escapar da cassação de seu mandato no Conselho de Ética por supostamente ter mentido durante depoimento à CPI da Petrobras, quando negou ter contas no exterior, Cunha deverá sustentar que não tinha recursos depositados na Suíça ou em qualquer outro paraíso fiscal. O peemedebista dirá que possui trustes, e não contas correntes. O truste consiste na entrega de um bem ou dinheiro a uma instituição para que ela o administre em favor do depositante ou de um beneficiário. O deputado dirá que era beneficiário, e não administrador.
“Ele construiu uma versão, é estratégia dele, mas não é consistente. É uma coisa absolutamente frágil”, diz um líder da oposição ao governo Dilma Rousseff. Para o deputado, os argumentos “não convencem”. “Até porque ele pode não ter mentido que tinha contas, mas ter truste não declarada também é crime”, afirmou. “As acusações são graves”, comentou outro opositor.
Sem respiro
Para deputados governistas, a defesa apresentada por Cunha não dá “respiro” ao peemedebista. “Nesse momento são apenas palavras. Não resolvem o problema. O Conselho de Ética vai querer comprovação com documentos”, afirmou um parlamentar do PT. Na avaliação do deputado, as provas apresentadas pelo Ministério Público da Suíça de que o presidente da Câmara possui contas secretas e patrimônio não declarado são bastante contundentes. “Tudo vai depender da defesa formal. O que foi adiantado até agora não dá respiro para ele”, avaliou.
Como vem mostrando o Broadcast Político, embora publicamente defenda seu afastamento, nos bastidores a oposição apoia o presidente da Câmara, para estimulá-lo a deferir o pedido de impeachment de Dilma Rousseff apresentado por eles. Opositores, contudo, deram prazo até 15 de novembro para Cunha anunciar sua decisão. Após esse período, pretendem subir o tom contra o parlamentar. O peemedebista, por sua vez, utiliza-se dessa prerrogativa para jogar também com o governo, cobrando apoio à sua permanência no cargo em troca de não deflagrar o processo de afastamento.