A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que, se Jesus fosse governante do Brasil teria que fazer coalizão com Judas, foi duramente criticada por políticos da oposição. O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, avalia que a popularidade de Lula o fez “perder o senso de realidade”. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) considera que, ao fazer essa analogia, o presidente da República “defende a promiscuidade”.

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A entrevista em que o presidente compara a relação de Jesus e Judas com a política brasileira foi publicada hoje no jornal “Folha de S. Paulo”. “Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”, disse Lula, ao defender suas atuais alianças políticas.

Para o senador Álvaro Dias, “a empáfia do presidente está cada vez pior”. “Ele mostra cada vez mais vocação autoritária. Ele despreza a questão ética e defende a promiscuidade que levou o partido dele a responder pelo Mensalão. É pagar um preço muito elevado em nome de um projeto de poder – porque ele mostra, ao dizer isso, que não tem projeto de País, tem projeto de poder”, criticou o tucano em entrevista à Agência Estado.

Roberto Freire aponta os altos índices de popularidade do presidente aferidos em pesquisas de opinião como a razão pela qual Lula chega ao “cúmulo de justificar suas alianças escusas colocando Jesus e Judas em conluio”. O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, afirma que Lula “exagerou” ao se comparar a Jesus, e ainda “ofendeu” seus aliados ao relacioná-los a Judas.

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“Aula”

O vice-líder do governo no Senado, senador Gim Argello (PTB-DF), no entanto, defende o presidente Lula e afirma que ele “deu uma aula” com a afirmação. “Lula deu uma aula na entrevista. Falou o que é a realidade do País”.

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Argello, que também é líder do PTB, partido aliado ao governo, disse ainda não ter se ofendido com a comparação do presidente usada para justificar suas atuais alianças políticas. “Hoje os parâmetros são outros. O ideal é um presidente popular, bem avaliado, com credibilidade no Brasil e no mundo. Eu não sou PT, eu sou Lula – que é o animal político que mais conhece o sentimento do povo”.

Apoio a Sarney

Senadores como Pedro Simon (PMDB-RS) e Arthur Virgílio também criticaram a justificativa usada por Lula para o apoio que deu à permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado quando o senador foi acusado de quebra de decoro parlamentar. Segundo as declarações de Lula publicadas no jornal “Folha de S.Paulo”, “a queda do Sarney era o único espaço de poder que a oposição tinha”, e se o vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), tomasse o poder, iria “fazer um inferno neste país”.

“Lula distorce a verdade. O senador Marconi Perillo teria, de acordo com o regimento, apenas cinco dias para realizar novas eleições no Senado. Lula defendeu o Sarney porque o Estado que ele quer é o Estado que o Sarney quer. Lula não respeita a proporcionalidade partidária. O PSDB chegou à vice-presidência por uma verdade democrática. Como iríamos destruir o Estado brasileiro em cinco dias?”, questiona Virgílio.

Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), o presidente Lula “mentiu” ao justificar o apoio a Sarney como forma de não deixar a oposição presidir o Senado. “Outro dia ele também disse que, se não tivesse apoiado o Sarney, não haveria aliança com o PMDB. É mentira também. Haveria sim, se ele quisesse, mesmo não salvando o Sarney, porque o PMDB quer ficar no poder. Ficou oito anos com Fernando Henrique, ficará oito com o Lula e ficará de novo com quem for eleito”, disse o parlamentar gaúcho.