Uma ação do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF) atingiu na terça-feira (14) a cúpula da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Batizada de Cadeia Velha, a operação investiga a suspeita de que empresários de transporte pagaram propinas a deputados estaduais e outros crimes. A lista de investigados inclui o último dos grandes caciques do PMDB fluminense, Jorge Picciani, presidente da Casa e do partido no Estado, além dos deputados Paulo Melo e Edson Albertassi, ambos também do PMDB.

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Os três foram alvo de conduções coercitivas para depoimento e tiveram suas prisões preventivas pedidas à Justiça. As acusações são corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

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Procuradores da República afirmam que Picciani e Melo, que também comandou a Alerj, receberam, juntos, mais de R$ 112 milhões em propinas da Fetranspor, entidade do setor de transporte urbano de passageiros, num período de cinco anos. Os pagamentos eram mensais.

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“No período de 15 de julho de 2010 a 14 de julho de 2015, foi pago da conta da Fetranspor para Picciani R$ 58,58 milhões, e para Paulo Melo R$ 54,3 milhões”, disse a procuradora Andréa Freire. Segundo ela, parte do dinheiro teria sido paga a mando do ex-governador peemedebista Sérgio Cabral. “Havia um projeto de poder de enriquecimento ilícito por muitos integrantes do PMDB do Rio.”

Foi a primeira operação da PF ligada às investigações da Lava Jato que teve como alvo o comando de um Legislativo estadual. Também foi a primeira ação do gênero que precisou de autorização de um Tribunal Regional Federal – o da 2.ª Região – no caso. Isso era necessário por causa das prerrogativas de foro dos parlamentares sob investigação. Ao todo, foram expedidos pela corte seis mandados de prisão preventiva, quatro de prisão temporária e 35 de busca e apreensão no Rio, Saquarema, Volta Redonda e Uberaba (MG). A operação foi batizada de Cadeia Velha em alusão à prisão que existia no local onde foi construída a sede da Alerj.

Filho. Um dos presos temporariamente foi Felipe Picciani, um dos filhos do presidente do PMDB. Ele dirige a Agrobilara, empresa pecuária da família, em Uberaba, citada em diversas investigações como centro de lavagem de dinheiro. Os pedidos de prisão dos parlamentares terão de ser julgados pelo TRF-2.

A investigação durou seis meses e tem como base quebras de sigilo bancário, telefônico e telemático, acordos de leniência e de colaboração premiada, além de provas obtidas a partir das operações da Lava Jato do Rio – Calicute, Eficiência, Descontrole, O Quinto do Ouro e Ponto Final.

De acordo com o MPF, a organização criminosa age desde 1990 e tem entre seus integrantes o ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro de 2016. O esquema incluiu, afirmam os procuradores, a ocultação de recursos públicos. Também teria envolvido doações da construtora Odebrecht a políticos, declaradas em acordos de colaboração já homologados.

O superintendente da Polícia Federal no Rio, Jairo Souza da Silva, relacionou a crise financeira do Estado com o esquema. “Esta organização foi mantida por membros do Executivo, do Legislativo e empresários, principalmente da construção civil e da Fetranspor. O Rio vem sendo saqueado por esse grupo há mais de uma década, resultando na falência moral e financeira do Rio, nos salários atrasados do funcionalismo público, na polícia sucateada e na violência que nos agonia todos os dias.”

‘Empapuçam’. O procurador Carlos Alberto Gomes de Aguiar declarou que “enquanto o Rio definha”, os alvos da Cadeia Velha “se empapuçam com dinheiro da corrupção”. Ele afirmou ainda que “a organização criminosa está em franca atividade” e que, por isso, foram pedidas as prisões preventivas de empresários de ônibus. Desses, foram presos Lélis Teixeira, Marcos Teixeira e Jacob Barata Filho.

Lélis e Jacob Barata chegaram a ser presos em outra fase da operação, mas respondiam em liberdade após habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. José Carlos Lavouras também teve a prisão decretada, mas está em Portugal, onde já está detido. “Isso foi feito porque eles seguiram repassando propina”, disse Aguiar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.