O patriarca da Odebrecht, Emilio Odebrecht, detalhou à Operação Lava Jato como se deu a atuação da empreiteira para implantar mudanças no programa do acordo de leniência e, assim, resolver os problemas do grupo. Segundo o patrono, houve um trabalho, em 2015, junto a sindicatos, associações de classe e ao então ministro Jaques Wagner (PT), do Governo Dilma.
Emilio declarou que a atuação começou quando seu filho Marcelo foi preso – o empreiteiro foi levado pela Lava Jato em 19 de junho de 2015.
“Nós chegamos à conclusão que a melhor solução seria buscar um apoio daqueles mais interessados em que o emprego se restabelecesse no país e a volta do crescimento, que era condição si ne qua non para a retomada do trabalho e consequentemente, se não diminuição, mas que estagnasse a questão evolutiva do desemprego. Nós procuramos fazer um trabalho para, junto aos sindicatos, as associações de classe para pressionar aquela MP que estava no Congresso”, disse.
Segundo o delator, um projeto de lei que alterasse os termos da leniência ia levar um timing enorme. “Procuramos mostrar aos sindicatos e associações de classe que estavam nos ajudando, desenvolvendo isso para que encontrasse uma forma mais rápida, mais célere para o assunto.”
Naquele momento, de acordo com Emilio, a empreiteira não tinha interesse em uma leniência nos termos vigentes. O desejo da empreiteira era mudar a legislação para que atendesse aos interesses da Odebrecht. Para viabilizar a mudança na legislação, então, a Odebrecht tentou reunir aliados com a bandeira da empregabilidade e do crescimento do País.
“No fundo, eu acho que foi o que nós achávamos que ia acontecer que essa pressão dava suporte para eles agirem. Eles não estavam agindo de forma eficaz para poder tornar as coisas céleres. Essa foi uma forma de pressionar, levando o respaldo tanto do trabalhador como do capital”, afirmou.
Além das associações, Emilio declarou que procurou Jaques Wagner. O encontro se deu em novembro de 2015. “Eu estive com ele também, mas quem fez a pressão principal foi os sindicatos e associações de classe”, relatou. “Ele ouviu, entendeu como assunto tendo pé e cabeça. Sem dúvida nenhuma, não vou querer burilar, ele via que seria uma forma também para o próprio governo. Atendi ao próprio governo.”
De acordo com Emilio, não houve contrapartida pedida por Jaques Wagner pela MP.
“Não, até porque nós estávamos muito fragilizados. Eles estavam, nós estávamos muito mais. Era o torto pedindo ao aleijado”, disse.