A Odebrecht firmou um acordo com o Ministério Público do Peru pelo qual se compromete a colaborar com as investigações de corrupção no governo local e a pagar um adiantamento de US$ 9 milhões (cerca de R$ 29 milhões) pelos ganhos ilícitos que obteve no país.

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A estratégia da empreiteira é buscar entendimento semelhante com autoridades de outros países em que admitiu ter se envolvido no pagamento de propinas por contratos. O objetivo é manter a possibilidade de fazer negócios com o poder público no exterior, já que obras internacionais são parte significativa do faturamento do grupo.

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A Odebrecht reconheceu ter pago US$ 29 milhões a autoridades do Peru entre 2005 e 2014. Como resultado, a empresa obteve ganhos de US$ 143 milhões. Os dados constam de relatórios do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, tornados públicos no fim do mês passado.

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Os documentos compilam informações fornecidas pela própria empresa no acordo de leniência de R$ 6,9 bilhões firmado com autoridades americanas, brasileiras e suíças. Esse valor será pago em 23 anos.

Conforme os documentos, a construtora e a Braskem, seu braço petroquímico, pagaram R$ 3,4 bilhões em suborno a políticos e servidores públicos de 12 países das Américas e da África, incluindo o Brasil. A divulgação já levou alguns governos, entre eles Equador e Panamá, a proibir a contratação da empresa.

O convênio preliminar com o MP peruano foi fechado após a Odebrecht ser banida de licitações também naquele país, na semana passada.

Compromisso

O órgão informou nesta quinta-feira, 5, que, por meio do convênio preliminar, firmado após semanas de “intensa negociação”, a construtora se comprometeu a entregar informações e papéis relevantes para a investigação, ainda que se encontrem em outro país, o que deve acelerar o processo penal em curso.

O procurador Carlos Trigoso, responsável pelo caso, afirmou que o dinheiro será depositado nas contas do Estado peruano. O pagamento por ora acertado, segundo ele, não deve ser entendido como a quantificação total dos prejuízos, que só será definida após o fim das negociações com a empreiteira.

O investigador acrescentou que, além de restituir as perdas causadas ao país, a empresa terá de pagar indenização civil.

O MP peruano classificou o acordo como inédito, já que, em outros países, não foi fixado nenhum adiantamento. “Em nosso caso, foi uma exigência para iniciar as conversas”, disse.

“A entrega significa que o Estado peruano, muito antes de ditada uma sentença final, já recuperou parte dos lucros ilícitos que a empresa reconheceu ter obtido, sem prejuízo de que o montante total seja determinado no acordo final”, reiterou o órgão em comunicado oficial.

A Odebrecht informou, em nota sobre o acordo com o Peru, que “reitera seu compromisso de cooperação com as investigações realizadas no país”.

As obras no exterior representam 80% do faturamento da construtora, que responde por um terço do faturamento total do Grupo Odebrecht.

Obras peruanas

Gasoduto Sul Peruano – Trata-se de concessão de 34 anos para construir e operar mais de 1.134 quilômetros de dutos de gás natural em toda a região sul do Peru. Obra é avaliada em mais de US$ 5 bilhões e tem a Odebrecht como integrante do consórcio.

Vias Novas de Lima – Projeto leva acessibilidade às zonas residenciais na capital peruana. Obras compreendem a construção de um viaduto e de uma rampa de acesso que liga a Avenida El Derby à Panamericana Sul, além de uma via auxiliar.

Estrada Negromayo – Projeto de melhoria da estrada na província de Espinar, na região de Cusco. Obra estende-se por 70,8 quilômetros e tem cinco pontes. Obra faz parte da malha nacional peruana.

Projeto Matarani – Obra do setor de infraestrutura portuária. O projeto consiste em um sistema de recepção, armazenagem e embarque de minerais. O terminal especializado está localizado a cerca de 1 quilômetro do Terminal Portuário Matarani, na região de Arequipa.

Projeto Olmos – Envolve o desvio das águas do rio Huancabamba por meio de um túnel de 20 quilômetros. O objetivo é utilizar a água na irrigação de terras não cultivadas no vale de Olmos e para geração de energia hidrelétrica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.