Invasão de fazenda pelo MST. Cena se
repetiu 222 vezes no Brasil em 2003.

Balanço da Ouvidoria Agrária Nacional revela que no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva dobrou o número de ocupações de terra no País e também de mortes no campo decorrentes de conflito agrário. As invasões de terra saltaram de 103, em 2002, para 222, em 2003. A violência no campo gerou 42 assassinatos no ano passado, contra 20 mortes em 2002. O relatório da Ouvidoria mostra que mais de um terço das invasões se concentram no Nordeste. Das 87 ocupações registradas na região, 64 ocorreram em Pernambuco.

Para a ouvidora agrária nacional, a paranaense Maria de Oliveira, esses números são bastante preocupantes. ?É uma resposta da demanda social, que busca visibilidade e cobra do governo o fortalecimento da reforma agrária?, disse Maria de Oliveira.

Segundo a ouvidora agrária, Pernambuco lidera o ranking das ocupações por ser um estado que concentra um grande número de latifúndio improdutivo e também de famílias acampadas, que chega a 23 mil vivendo debaixo da lona na beira de estradas. Pernambuco ainda é o estado com o maior número de movimentos sociais envolvidos nos conflitos e ocupações.

Do total de 42 mortes decorrentes de conflito agrário em 2003, 31 ocorrem no Norte, sendo 19 no Pará, estado onde a tensão no campo é elevada. O sul do Pará é onde se localiza o maior foco de conflito agrário do país. Maria explicou que os assassinatos no estado não envolvem disputa de sem-terras com grandes latifundiários. Essas mortes estão relacionadas a conflitos entre grileiros de terra e fazendeiros.

A ouvidora acredita que o cenário será diferente em 2004, mais favorável que 2003. O otimismo da ouvidora se deve a duas medidas do governo federal: a criação da comissão de combate à violência no campo, presidida pelo ouvidor agrário Gercino José da Silva, e pela instalação de varas agrárias federais nos estados para solucionar os conflitos.

?São instrumentos que vão dar agilidade ao processo e desafogar o Judiciário. A reforma agrária está emperrando nas ações judiciais. A demora no julgamento desses casos é fator agravante, aumenta a tensão no campo, que se desdobra em assassinatos?, disse.

Críticas

Maria de Oliveira também criticou duramente a decisão da UDR (União Democrática Ruralista) de instalar um escritório em Brasília para acompanhar as ações do governo e combater a suposta influência do MST (Movimento dos Sem Terra) no Ministério do Desenvolvimento Agrário e também dificultar a implementação do Plano Nacional de Reforma Agrária anunciado pelo presidente Lula no final do ano passado. ?A UDR representa um atraso para a nação brasileira, um retrocesso. Não há como o governo não cumprir o Plano de Reforma Agrária?, disse Maria de Oliveira.

Paraná também registra crescimento

Fabiane Prohmann

No Paraná, também foi verificado um crescimento no número de invasões. Mas, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), pior do que isso foi o registro de cinco assassinatos no campo, contra nenhum em 2002. O Relatório das Invasões de Propriedades Rurais produzido pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) mostra que em um ano houve um aumento de 13 ocupações.

O Relatório, publicado em outubro de 2003, revelou que os produtores rurais estão desanimados com a situação. ?Após um período de arrefecimento nas invasões de propriedades rurais, resultante da disposição do executivo estadual em cumprir as determinações judiciais de reintegração de posse, o conflito possessório retorna ao meio rural paranaense, com toda sua violência de roubos, depredações, ameaças e chantagens?, disse o presidente da Federação, Ágide Meneguette.

O número registrado em 2002, segundo a Faep, foi de 39 propriedades rurais invadidas, o menor desde 1990. Mas a partir de janeiro de 2003 as ocupações ganharam novo fôlego, e até 31 de outubro eram 52 as áreas invadidas. De acordo com o Relatório, o motivo deste aumento é ?conseqüência da impunidade concedida aos sem-terras invasores?.

No quadro atual das invasões, no período de novembro de 2002 a outubro de 2003 foram realizadas 53 invasões de propriedades. Destas, 24 foram reintegradas, tanto através da ação do governo do Estado como por acordos entre proprietários e invasores. Hoje, são 65 propriedades rurais continuam ocupadas.

A Secretaria Estadual da Segurança Pública tem números diferentes. De acordo com a assessoria de imprensa da pasta, foram registradas 31 invasões no ano passado. Além disso, o governo fez 34 reintegrações de posse. A assessoria informou ainda, que as regiões que mais sofrem ações do MST são a Oeste e a Noroeste, e que praticamente todos os casos foram resolvidos.

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