O bispo emérito do Marajó (PA), d. José Luís Azcona Hermoso, é uma das raras vozes críticas ao Sínodo da Amazônia na Igreja Católica. Aos 79 anos, com a autoridade de quem vive há mais de três décadas na ilha paraense – onde já foi atacado por um búfalo e ameaçado de morte por denunciar a exploração sexual de crianças – o clérigo espanhol diz que a assembleia ignora a realidade ao dar protagonismo aos indígenas, o que pode tornar “supérfluo” o esforço da Igreja. Aposentado, d. Azcona sugere que o Vaticano discuta a situação da vida urbana, dos negros e o avanço de evangélicos na região.

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Nos documentos do Sínodo, a Igreja se coloca contra tipos de exploração econômica na Amazônia e defende reservas indígenas e ecológicas, posições opostas às do presidente Jair Bolsonaro. A Igreja não age politicamente?

A Igreja se posiciona contra todo tipo de dominação. A Igreja no Brasil sempre se apresentou como defensora da justiça e advogada dos pobres, no caso, dos indígenas. E todo católico, todo brasileiro coerente com as exigências da sua humanidade e cidadania, se posicionará com energia e resolução contra todo tipo de dominação econômica e ecológica. Não sei o que o presidente Jair Bolsonaro pensa, mas se ele atenta contra o bem da Amazônia, da criação, dos direitos comprovados dos indígenas, ele deve ser enfrentado com meios justos, legítimos e eficientes. Isso é o que a Igreja com todo o povo brasileiro deverá enfrentar se for comprovada a existência de projetos gravemente opostos ao meio ambiente, aos indígenas ou ao bem comum da nação.

O Sínodo pode expor o governo Bolsonaro no exterior?

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O Sínodo não necessita expor diante do mundo o que já está exposto. Poderá externar seu ponto de vista com relação à Amazônia e ao Brasil.

O governo afirma que o Sínodo ameaça a soberania nacional.

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Pelo contrário. O Sínodo é capaz de fazer acontecer a reconciliação nacional. Nunca o Brasil esteve tão polarizado. Se quiser sobreviver, o Brasil tem necessidade urgentíssima de reconciliação, que se concretiza no amor aos inimigos.

O sínodo ignora algum tema relevante da Amazônia?

Ignora completamente a realidade da Amazônia, fazendo supérfluo o Sínodo da mesma. Os protagonistas são as etnias indígenas que, no Brasil, constituem uma minoria mínima. Em concreto, o rosto amazônico hoje é majoritariamente pentecostal. O desprezo prático dos afro-amazônicos é uma injustiça. Os caboclos que povoam as imensas margens do Amazonas infinito são um grupo humano excluído violentamente do mapa da mesma. Os amazônidas, além do mais, não habitam mais no interior, no mato, nas águas. Em sua grande maioria habitam em cidades. Sua cultura, portanto, é urbana. Como se pode ser tão cego?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.