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‘O que não pode é criminalizar a política’, diz Alcolumbre

Depois de um descompasso inicial, o governo começou a fazer política e a articulação com o Congresso deve deslanchar, avalia o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). “O que está acontecendo hoje? Está acontecendo a política. Ainda bem que está acontecendo a política. Ele saiu dessa linha de dizer que não havia conversa”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “O que não pode é criminalizar a política”, afirmou.

Eleito para a chefia do Congresso com o apoio do Planalto, Alcolumbre critica o excesso de manifestações dos filhos de presidente nas redes sociais e as polêmicas entre as diferentes alas do governo Bolsonaro. “Não adianta defender a ala militar, a ala civil. É a ala do Brasil”, afirma o senador, em visita a Nova York para conversas com empresários e investidores. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Como está a articulação do governo para aprovar a reforma da Previdência?

Temos de entender que estamos vivendo um novo momento. Temos agora um novo modelo de governança. O que esse governo falou desde o dia que tomou posse é que iria fazer o novo método de gestão. Escolheu os quadros técnicos para assumir as 22 pastas do governo sem consultar os partidos ou ouvir as sugestões dos partidos que estão há 30 anos com esse outro modelo, de coalização. Estou sentindo que o governo tem buscado aproximação e que o parlamento também está aberto para o diálogo e para o entendimento.

Mas os partidos conseguem se ver representados?

Não é tanto isso. Independentemente de estarem representados estão vendo que estão no processo. Tanto é que começou o diálogo em busca da composição partidária do 2.º e 3.º escalões. Então há essa composição. Nos últimos 45 dias que o Onyx e o próprio presidente têm sinalizado mais claramente que deseja construir a sua base no Congresso nessa relação de confiança e, naturalmente, seguindo os critérios que o próprio governo estabeleceu.

A composição partidária em torno de cargos do 2.º e 3.º escalão não é basicamente o que já era feito antes, mas num outro nível de governo? Isso é novo?

Você tem de entender que se tiver um quadro qualificado para ocupar um espaço de poder para colaborar com a gestão, que seja muito bem-vindo. O que não pode é criminalizar a política. As indicações que o presidente fez foram de frentes partidárias, frente da agricultura, frente da saúde. Ele adotou outra metodologia. Quem sou eu para dizer se está certo ou errado? Não tem nada de troca-troca, essa conversa de troca-troca não existe, isso é para diminuir a política e eu não quero diminuir a política.

O presidente disse que não queria fazer um toma lá, dá cá com cargos.

Mas o que está acontecendo hoje? Está acontecendo a política. Ainda bem que está acontecendo a política. O presidente quando deputado votou contra a reforma (da Previdência). Agora como presidente e chefe de um Estado, ele está convencido de que estava errado no voto dele contra a reforma. Ele não foi eleito com a tese da reforma da Previdência, mas depois de receber a faixa se convenceu que a reforma é o que dará segurança para esse país que elegeu ele. Ele está tendo a humildade de dizer assim: eu errei. Porque é isso que o presidente está fazendo, ele está dizendo: eu errei quando era deputado votando contra e me ajudem aí Congresso

Então nesses 45 dias para cá, quando a coisa muda de tom, é o presidente reconhecendo que precisa mudar com relação à articulação do começo de governo?

Com certeza, se ele saiu dessa linha de dizer que não tinha conversa e veio para a linha da conversa, ele reconheceu que é o melhor caminho. E o Congresso estava aberto para conversar e debater. Ele se convenceu.

O fogo cruzado entre diferentes alas do governo Bolsonaro atrapalha a discussão da reforma da Previdência?

Atrapalha do ponto de vista de focar nas coisas que a gente quer fazer. Não adianta defender a ala militar, a ala civil. É a ala do Brasil. Tem de acabar com essa conversa, essa divisão.

Os filhos do presidente por vezes entram nessa discussão entre as diferentes alas.

Um filho do presidente é senador, outro é deputado federal e outro é vereador, o pai é presidente. Isso é uma coisa muito forte para uma família. Todos têm legitimidade porque têm mandato. Eles precisariam estar mais atentos a esse papel que eles estão cumprindo agora. O que têm que entender? Eles são os filhos do presidente da República. Tudo o que eles falarem vai ser potencializado. Se meu pai fosse presidente, eu, Davi, iria pensar 30 vezes antes de escrever alguma coisa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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