Ainda não havia passado oito horas do debate presidencial da RedeTV! quando o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) chegou à área reservada de jatinhos particulares do Aeroporto de Congonhas. Adepto dos voos de carreira, o presidenciável rendeu-se a um voo fretado para cumprir a primeira viagem oficial de campanha no interior do Pará.
Alckmin começa a sua segunda campanha presidencial – perdeu em 2006 para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – tendo que provar para o partido, para aliados e principalmente para os eleitores que o resultado desta eleição vai ser diferente. “Mesmo com mais candidatos, a campanha deste ano é mais factível, mas forte”, disse Alckmin ao Estado. O tucano se escora no tempo de TV como principal argumento para chegar ao segundo turno. Sozinho, ele tem 48% do tempo total.
O destino escolhido foi Itaituba, uma cidade no interior do Pará com um pouco apenas 75.805 eleitores. Número (para lá de) insuficiente de votos capaz de lhe tirar da incômoda quarta colocação nas pesquisas eleitorais. O Estado, a convite, acompanhou o candidato pelo Pará. Além do tucano, a comitiva enxuta contava com a presença da mulher de Alckmin, Dona Lu, um assessor, uma fotógrafa, um cameraman e um ajudante de ordens.
Assim que se acomodou na aeronave, o ex-governador tirou da bolsa uma caderneta com o logotipo do Santos – seu clube do coração – e recortes de jornais sobre os problemas de infraestrutura da Região Norte do País. O tucano tem o hábito de anotar estatísticas e dados para utilizar em suas conversas com eleitores e em entrevistas. O tecnicismo de Alckmin é, para assessores, um dos principais desafios neste início de campanha. Nos dois debates na TV até agora, o tucano foi criticado pelo discurso frio, calçado em números que pouco impacta a audiência. “Não sou um showman”, admitiu.
Durante as pouco mais de três horas de voo entra São Paulo e Pará, o tucano reclamou da ação do MDB que tenta anular a aliança entre o PSDB e oito partidos – que lhe dá o maior tempo de TV entre os presidenciáveis -, falou que pensa em vender ou extinguir a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), e defendeu a tipificação do enriquecimento ilícito no código penal.
A corrupção é um tema que vai estar presente na tentativa de Alckmin chegar ao Planalto. Às vésperas do início oficial da campanha, ele teve que comparecer pessoalmente pela primeira vez a sede do Ministério Público paulista para dar explicações sobre um suposto repasse de R$ 10,3 milhões da Odebrecht para suas campanhas ao governo. “A população vai saber diferenciar as coisas. Tenho 40 anos de vida pública. Não é só Ficha Limpa. Tenho a vida limpa.”
Na passagem pelo Pará, Alckmin gravou em um trecho da Transamazônica, visitou também Santarém e a aldeia de Alter do Chão. Ali, às margens do Rio Tapajós, o anestesista Alckmin tentou suavizar a imagem de prefeito de Pindamonhangaba que o acompanha desde que entrou na vida pública e com a qual ganhou três eleições em São Paulo. Tomou cerveja em copo de plástico, tirou os sapatos sociais e as meias finas para, ao lado de Dona Lu, colocarem os pés na água.
À população local, exaltou o Bolsa Família, passou por uma sai a justa ao ser cobrado pela recriação do Ministério da Pesca – Alckmin é contra e prometeu asfaltar a Transamazônica. Quando se posicionou em frente à câmara para gravar a promessa, se deparou com um outdoor de Jair Bolsonaro (PSL) onde diz: “Pela Família”. “Isso é totalmente ilegal”, afirmou.
Nos dois dias, por mais de uma vez, Alckmin foi questionado por aliados locais sobre as dificuldades da campanha. A cada pergunta, ele repetia como um mantra que o tempo de TV era o seu principal trunfo. “É uma eleição curta. Quem aparecer mais tem mais chance”. Resta combinar com o eleitor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.