A confirmação de que Fernando Haddad seria o “plano B” do PT na disputa presidencial chegou pelo WhatsApp. Era sábado à tarde, 4 de agosto, dia da Convenção Nacional. A cúpula petista se reunia na sede da legenda, em São Paulo, para escolher o candidato a vice e virtual substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.

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Um grupo ainda se opunha ao nome de Haddad quando apitou o celular da presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Na tela surgiu a foto de uma carta escrita a mão na qual Lula indicava Haddad. Gleisi a leu em voz alta, o ex-prefeito foi aclamado, fez um discurso em tom de agradecimento, e a direção petista voltou para a Casa de Portugal, na Liberdade, onde centenas de delegados participavam da convenção alheios à decisão.

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A escolha só seria divulgada às 23h55 de domingo, 5 minutos antes do fim do prazo determinado pelo Superior Tribunal Eleitoral, mas naquele sábado Haddad já não escondia a felicidade pela escolha. “É quase um milagre termos conseguido segurar esse processo até agora”, deixou escapar, às gargalhadas, enquanto tomava café de coador em copo de vidro no Topless, bar que serve pratos feitos na rua do diretório.

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Até a chegada da carta, Haddad teve de superar resistências e fazer concessões para minimizar a desconfiança de setores do PT – o ex-prefeito não costumava ter uma participação ativa no partido. Orientado por Lula, se juntou à cúpula petista na Corrente Construindo um Novo Brasil, a maior do PT; ampliou seu grupo interno ao se aproximar do ex-presidente da sigla Rui Falcão, do tesoureiro do partido, Emídio de Souza, e do deputado Vicente Cândido, e recuou das críticas que fazia à presidente cassada Dilma Rousseff.

Sem apoio no partido e ainda alvo de críticas internas por ter perdido a eleição para prefeito no primeiro turno, em 2016, Haddad foi empoderado por Lula como coordenador do programa de governo petista.

Convencido da necessidade de uma ampla frente de partidos de esquerda para o que chamava de “inexorável confronto com a direta e a extrema direita”, Haddad usou o “cargo” conferido por Lula para se aproximar de lideranças do PSB, do PCdoB e, principalmente, de Ciro Gomes, do PDT. A aproximação enfureceu o PT e mais uma vez Lula foi obrigado a entrar em campo para salvar seu pupilo.

Companheiros dizem que ele sempre teve a Presidência na perspectiva, mas a percepção de que poderia efetivamente ser candidato só veio no dia da prisão de Lula, 7 de abril. A maioria das pessoas se lembra do fato de Lula não ter feito nenhum gesto explícito em favor do ex-prefeito naquele dia, mas alguns não esquecem que o ex-presidente, discretamente, puxou Haddad pela mão para a frente do palanque enquanto outros se acotovelavam por um lugar de destaque na missa/comício de despedida. Naquele momento o preferido do PT e de Lula era o ex-ministro Jaques Wagner, que declinou de todas as investidas, a última delas no sábado da Convenção.

Só então o ex-presidente escreveu a carta enviada pelo WhatsApp. Até a oficialização, em 11 de setembro, Haddad passaria mais de um mês numa espécie de purgatório político. De sua cela em Curitiba, Lula, líder absoluto em todas pesquisas mas enquadrado na Lei da Ficha Limpa, traçou uma estratégia na qual Haddad seria “sua voz e suas pernas”, portador da “ideia” na qual o líder petista diz ter se transformado enquanto cumpre pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A estratégia de retardar ao máximo a troca do bastão se mostrou suficiente para colocar Haddad no segundo lugar nas pesquisas, até agora. Mas o desconforto do candidato fica cada dia mais evidente para integrantes da campanha. Seus auxiliares reclamam que o PT nunca deixou de lado a desconfiança e que todas decisões têm de passar pelos homens de Lula como Sérgio Gabrielli e Luiz Dulci.

O programa de governo feito sob medida para Lula vem sendo questionado publicamente e deve ser flexibilizado. “Por ser uma construção coletiva, isso é normal. Nem sempre o que ele está defendendo é o que ele diria. O programa é a cabeça do Lula, não a dele”, disse Cândido.

Aos poucos, Haddad vai ter de sair de baixo das asas de Lula para ser ele próprio. O perfil mais conciliador do que a média petista é visto como um ponto positivo para atrair possíveis alianças de segundo turno. Haddad tem feito acenos ao mercado e já falou em executar uma reforma da Previdência com faixas de idade mínima para aposentadoria e modulou a proposta de convocação de uma Constituinte, agora substituída pela ideia de reformas pontuais.

O ritmo e a amplitude dessas concessões vão depender das alianças e da dinâmica de um eventual segundo turno, mas a ligação com Lula vai continuar, em maior ou menor grau, até o fim da disputa. Indagado sobre quando Haddad vai enfim sair da sombra de Lula, um ex-colaborador seu na Prefeitura foi categórico: “Quando estiver no governo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.