Na noite de quinta-feira, 19, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) estava a caminho do aeroporto de Congonhas, onde um jato fretado aguardava para levá-lo a Brasília, quando foi informado pelo jornal O Estado de São Paulo que partidos do Centrão decidiram apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial. Se confirmado o acordo, que teria a chancela do presidente Michel Temer (MDB), será sacramentado seu isolamento partidário. O tucano poderá ter 4 minutos e 40 segundos em cada bloco diário de propaganda de rádio e TV – mais que o dobro que o emedebista terá se não fechar alianças.
Apesar de aparecer com apenas 1% nas pesquisas de intenção de voto, o ex-ministro não se abalou. Ele acredita que pode reverter ao menos parte das siglas a seu favor. E, se não for possível, isso não seria problema. “O MDB tem condições de vencer independentemente de coligações. As chances de vitória do meu nome são muito maiores do que de um ou outro ex-governador”, afirmou, ao se referir a Alckmin e a Ciro Gomes, presidenciável do PDT que governou o Ceará.
Aos 72 anos, Meirelles não tem dúvida de que sua candidatura será confirmada na convenção do MDB no dia 2 de agosto em Brasília – ele teria 443 dos 629 delegados, segundo levantamento do ministro Eliseu Padilha, seu maior cabo eleitoral. E acredita que terá ao menos 15% dos votos em outubro, o que o levaria ao segundo turno.
Em sua primeira disputa eleitoral majoritária, o ex-ministro também não se abalou quando leu a notícia de que o presidente tinha aberto negociação com Alckmin à sua revelia e cogitava até colocá-lo como vice do tucano, hipótese que ele sempre rejeitou. Também ignorou o ceticismo dos analistas, que duvidavam da viabilidade de um candidato apoiado pelo governo mais impopular da história.
Assessoria. Com recursos próprios, montou uma equipe profissional de pré-campanha. Recebe auxílio de fonoaudióloga, dois marqueteiros (Paulo Vasconcellos e Chico Mendes), um pesquisador especialista em classe média (Renato Meirelles) e cinco assessores de imprensa. Meirelles deixou de lado o discurso econômico hermético, voltou-se para a classe média, “humanizou” a imagem sisuda e se embrenhou no emaranhado de correntes internas do MDB.
Aproximou-se de emedebistas históricos como Jader Barbalho (PA) para enfrentar a artilharia dos senadores Eunício Oliveira (CE), Roberto Requião (PR) e Renan Calheiros (AL), seus adversários declarados dentro do partido. Em São Paulo, encontrou no presidente licenciado da Fiesp, Paulo Skaf, pré-candidato ao governo, um palanque sólido no maior colégio eleitoral do País. Sobre as críticas, diz que “é resultado da força” da sua candidatura.
Católico, o ex-ministro passou a levar a mulher, a psiquiatra Eva Missine, que é luterana, a eventos com mulheres e pastores. Em reunião administrativa dos pastores da Assembleia de Deus na segunda-feira passada, o pastor José Wellignton agradeceu a presença de Eva e fez um gracejo: “A senhora soube escolher bem o seu Adão”.
Ao evento, o ex-ministro foi também acompanhado de assessores de imprensa e integrantes da equipe de marketing – visivelmente preocupada em avaliar o desempenho do précandidato, apresentado como “pai das finanças” e “xerife na economia”. “Meirelles é muito sério, falam. Dizem que é sério porque não podem dizer que é corrupto. O Brasil está passando um momento sério. Não é momento para brincadeiras”, afirmou o pastor Ronaldo Fonseca, recentemente nomeado ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Convidado a assumir o púlpito onde se lia “Jesus”, Meirelles falou de improviso e pediu oração por ele e pelo País. O pré-candidato citou seu trabalho na Fazenda e disse que, “com fé e determinação”, foi possível tirar o Brasil da recessão. Ele recebeu uma oração por sua campanha e por um eventual mandato.
Outsider
Parte da confiança e da persistência do ex-ministro se deve a pesquisas qualitativas que recebe regularmente de Renato Meirelles, considerado especialista em decifrar o pensamento da classe média e que, apesar do sobrenome, não é seu parente. “O primeiro diagnóstico é que há uma grande demanda por um outsider, ou alguém que esteja acima da política”, disse o consultor.
“Não sou um candidato profissional. Essa é minha primeira candidatura a eleição majoritária. Mas não fico buscando rótulo”, disse. Questionado se se considera um “outsider”, despistou. “Isso eu deixo para analistas e eleitores julgarem.” Foram essas pesquisas que apontaram o “antídoto” contra o rótulo de “candidato de Temer”: ter comandado o Banco Central por oito anos na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Questionado se pretende colar sua imagem em Lula, Meirelles foi evasivo. “O trabalho que fiz no Banco Central foi muito bem-sucedido. Estou discutindo o trabalho que fiz naquela época. Discordo de muitas propostas políticas do Lula, principalmente agora.” Então é o caso de defender dois legados – Temer e Lula? “Vou defender o trabalho que eu fiz. Estou colado na minha história.”
Quando Meirelles se filiou ao MDB, em abril, até amigos próximos duvidavam das chances de ele convencer o partido a aceitá-lo como candidato. Segundo um auxiliar, foi a estagnação de Alckmin nas pesquisas na casa dos 6% que abriu o caminho. Em condições normais, o MDB buscaria, como fez em todas as eleições desde 1994, aproximar-se do candidato mais viável eleitoralmente.
Com o cenário incerto, dirigentes do partido passaram a considerar que não seria má ideia ter candidato próprio. A garantia à sigla de que pagaria a campanha do próprio bolso também pesou. Meirelles está disposto a gastar até R$ 35 milhões. “Fiz um patrimônio no setor privado, principalmente no exterior. Doações pessoais serão bem-vindas, mas estou preparado.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.