Em nenhum outro momento da história do Brasil e das Copas o futebol e a política estiveram tão interligados quanto neste Mundial. A realização do torneio no País já interferiu no processo eleitoral, a goleada de 7 a 1 sofrida pela seleção diante da Alemanha vai influenciar o humor dos eleitores e o prejuízo deve cair na conta da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição.

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As afirmações são do historiador Flávio de Campos, coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens) da Universidade de São Paulo (USP).

Politização inédita

“Talvez em nenhum momento na história do Brasil e das Copas do Mundo a política se articulou tanto com o esporte. Desde junho de 2013 a política acompanhou o desenrolar do torneio. Às vésperas da abertura havia um clima de desmobilização torcedora, uma apatia torcedora, e isso foi se modificando. Aquilo começou a se transformar em uma mobilização da torcida verde-amarela e curiosamente na desmobilização das manifestações sociais e mesmo dos movimentos grevistas de várias categorias que haviam se apresentado no mês de maio e começo de junho.”

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Torcida de ‘shopping center’

“A gente tem que levar em consideração aquela baixaria que foi o xingamento à presidente da República na partida inicial (da Copa, entre Brasil e Croácia, no Itaquerão, em São Paulo). Aquilo revela outras coisas sobre o tipo de público que foi aos estádios. Alguns analistas chamaram de público de teatro, mas não é. A imensa maioria poucas vezes foi a um estádio de futebol. E não é público de teatro, porque essa classe média não tem cultura teatral, no máximo ‘stand up’. Aquele é um público de shopping center, raivoso, rancoroso.”

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Impacto eleitoral

“A Copa já interferiu no resultado das eleições. Os índices de popularidade da presidenta Dilma desidrataram desde junho de 2013, quando começaram os questionamentos sobre o preço dos estádios, desvios e uso de dinheiro público, até antes do início da Copa e com o desempenho da seleção brasileira e o decorrer da competição começaram a subir outra vez. Pouco, mas avançaram.”

Apropriação eleitoral

“A tentativa de apropriação eleitoral da Copa é absolutamente normal e esperada. A Angela Merkel (chanceler alemã) posou com os atletas da Alemanha no vestiário e a família real holandesa com os atletas holandeses. É normal o governo federal, que é o principal organizador da Copa, tentar extrair dividendos políticos do torneio, como também é normal que os setores oposicionistas peguem carona e tentem surfar nessa onda que é muito boa. Faz parte do jogo político e eleitoral a tentativa de sintonização com a torcida brasileira.”

O campo e as urnas

“Seria melhor para o governo brasileiro que o Brasil ganhasse a Copa? Sim. A percepção da sociedade otimista tende a favorecer quem está no governo, enquanto uma percepção pessimista tende a influenciar a oposição ao governo.”

Dilma perde

“Dilma sai perdendo pela falta de embate político do governo. Concordo com o Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria-Geral da Presidência) quando ele disse que os xingamentos a Dilma (na abertura da Copa) não partiram só da elite. Está faltando para o PT a discussão política. Faltou ao governo federal alguém que faça a defesa dos aspectos positivos da Copa. Não existe quem faça isso hoje, quem combata a apropriação que a oposição faz, e vai fazer, dos problemas de organização. E isso também é absolutamente democrático.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.