Com um pouco menos de um mês como substituto de Deltan Dallagnol à frente da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, o procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira tem mantido o mesmo perfil de trabalho do antecessor, mas acrescentou ao grupo uma pitada de discrição e experiência que adquiriu de sua atuação junto aos tribunais superiores.
Desde que assumiu o cargo, ele já conduziu duas fases da operação e apresentou duas denúncias à Justiça Federal, entre elas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela suposta prática de lavagem de dinheiro de R$ 4 milhões por meio do Instituto Lula. A acusação envolve ainda o presidente da entidade, Paulo Okamotto, e o ex-ministro Antonio Palocci.
Ao contrário de Deltan, que em geral rebatia críticas ao trabalho do grupo pelas redes sociais, o novo chefe não se manifestou diante das queixas de Lula de prática de ilegalidades pelos procuradores e de falta de materialidade na nova denúncia.
Em outro exemplo de discrição, Oliveira escolheu falar sobre a 74ª fase da operação primeira que conduziu à frente da força-tarefa, envolvendo o Banco Paulista, por um vídeo curto enviado a jornalistas via assessoria.
Entre os demais integrantes da equipe, porém, a opinião é de que a estratégia de comunicação deve continuar a mesma, planejada e pensada para o conjunto. Um dos procuradores, ouvido pelo reportagem, diz que participar de uma força-tarefa faz com que o integrante “abra um pouco mão da sua independência” por causa do grupo.
Já para advogados do caso ouvidos pela reportagem, como já foi possível constatar nas primeiras entrevistas e ações do procurador, Oliveira não deve mesmo mudar o estilo de trabalho de Deltan.
O que deve diminuir são os holofotes que o antecessor conferia à chefia da força-tarefa, abalada com as acusações de parcialidade e direcionamento das investigações após a divulgação de diálogos no aplicativo Telegram, em 2019.
No geral, eles avaliam que, por ser mais antigo na carreira e aparentemente não ter pretensões maiores do que as do antecessor no cargo, o novo coordenador deva conferir mais autonomia e liberdade para que todos ajam de acordo com suas convicções.
Tido como linha dura, mas ponderado e dedicado ao trabalho, Oliveira já revelou ao núcleo um lado brincalhão e bem-humorado, como contou um de seus colegas à reportagem. Também tem mantido espaço aberto para a divergência na condução de ações e se colocou à disposição 24h por dia para os outros 13 procuradores.
Aos casos investigados ele tem aplicado a experiência que adquiriu no grupo da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR), do qual fazia parte desde janeiro de 2018. Um dos procuradores afirma que o novo coordenador está com “as coisas muito frescas dos trabalhos que fez em acordos de colaboração”.
Há cerca de um ano, Oliveira e outros cinco procuradores da equipe de Brasília chegaram a deixar os postos, alegando incompatibilidade com medidas da então procuradora-geral, Raquel Dodge.
Dias depois, Augusto Aras, que assumiu o cargo na sequência, convidou parte do grupo incluindo Oliveira para reassumir o trabalho.
Numa nova crise, desta vez com Aras, o procurador decidiu não seguir os três colegas que, em junho deste ano, pediram para deixar o núcleo.
Na ocasião, Hebert Mesquita, Luana de Macedo e Victor Riccely entregaram os cargos em resposta à tentativa de Lindôra Araújo, braço direito de Aras, de obter acesso a dados sigilosos da força-tarefa em Curitiba.
Ao jornal Folha de S.Paulo, no início do mês, Oliveira disse manter uma boa relação com ambos. Antes de assumir a atual função, trabalhava diretamente com a dra. Lindôra Araújo, bem por isso, nossa relação funcional era intensa, sempre muito amistosa e cordial, dentro de um ambiente de profissionalismo e respeito mútuo.
Na mesma entrevista, ele demonstrava preocupação sobre a possível redução de tempo ou de integrantes da força-tarefa paranaense. Logo após, Aras prorrogou o trabalho por mais quatro meses, prazo bem menor do que o um ano solicitado pelos procuradores.
A equipe de Curitiba diz não ter avaliado a decisão de forma negativa. Diante da eminente reformulação do próprio modelo de força-tarefa pela PGR, os procuradores ponderaram que esta foi a maior ampliação entre todas as outras forças-tarefas do MPF ativas pelo país.
O prazo menor, no entanto, pode atrapalhar a condução de possíveis novas linhas de investigações na Lava Jato paranaense.
A atual estrutura atende, no limite, às necessidades da operação. Para além das atividades em andamento, as ilicitudes descobertas apontam para possibilidades investigativas em progressão geométrica. O número de procuradores necessários e suficientes para dar conta do trabalho é impossível de ser mensurado, afirmou Oliveira à Folha de S.Paulo no início do mês.
Segundo o Ministério Público Federal no Paraná, ele foi escolhido por possuir reconhecida experiência no combate ao crime organizado e por ser o membro com maior antiguidade na Procuradoria a manifestar interesse e disponibilidade para coordenar os trabalhos da operação.
Ex-oficial da Polícia Militar e procurador desde 2004, Oliveira atua no Paraná há oito anos. Já foi conselheiro penitenciário e coordenador da Rede de Controle da Gestão Pública do estado. Também já atuou na área eleitoral.
É graduado em segurança pública pela Academia Policial Militar do Paraná e em direito pela Universidade Federal do Paraná, pela qual também é mestre em direito das relações sociais.
RAIO-X – ALESSANDRO JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA, 45
É procurador da República desde 2004
Atua no Paraná desde 2012 e, em 2018, passou a integrar o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR (Procuradoria-Geral da República)
Tem experiência em investigações sobre crime organizado, corrupção e lavagem de dinheiro
É graduado em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Paraná e em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
É mestre em Direito das Relações Sociais pela UFPR
