As novas formas de produção jornalística permitidas pelo avanço da tecnologia foram foco de um seminário internacional promovido, nesta terça-feira, 1, pela ESPM em São Paulo. O evento reuniu executivos da mídia, professores e estudantes para debater, entre outros pontos, as mudanças de rotina promovidas pelas redações para acompanhar o fluxo de consumo do leitor, que hoje se informa ao longo de todo o dia, e aprimorar a interação com esse público, por meio de medições de audiência e criação de novos produtos.
Diante das dificuldades de financiamento enfrentadas hoje por toda a mídia, a professora de jornalismo da ESPM Claudia Bredarioli destacou a necessidade de se ampliar a gama de produtos, acabando com o que classificou como o “monopólio da palavra”. Para a professora, investir em podcasts, canais do YouTube e serviços por assinatura são parte dessa solução, sempre acompanhada de técnicas que assegurem a credibilidade da notícia, seja ela repassada por texto, vídeo ou áudio.
A necessidade de oferecer sempre novos produtos ao leitor, telespectador ou ouvinte também foi citada pelo diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, que vê nas mídias digitais uma oportunidade para o jornal ampliar sua audiência, atingindo milhões de leitores pela internet, mas sem abrir mão de sua defesa centenária pela democracia e livre iniciativa.
“O maior desafio é criarmos essa cultura nas pessoas, sempre mantendo o foco no jornalismo profissional, o que é fundamental nesse mundo de fake news, e na conversão de assinaturas”, disse. “Hoje trabalhamos de acordo com a jornada do nosso cliente, que não mais consome notícia apenas no café da manhã lendo o jornal impresso, mas ao longo de todo o dia.”
Segundo Mesquita Neto, as empresas de mídia mal sabiam como seus produtos eram consumidos antes. Hoje, com a tecnologia, o cenário mudou e seguirá assim. “Vamos continuar tendo de incorporar essas novas tecnologias no nosso dia a dia, proporcionando alterações no nosso processo de trabalho, no fluxo da produção. Hoje a redação produz digital e também faz impresso”, exemplificou.
Nesse novo cenário, sempre em mutação, a conversão de assinaturas é considerada hoje a forma de financiamento do jornalismo de qualidade. Alcançar esse leitor, que paga por conteúdo profissional, porém, segue como desafio. O professor e diretor das Iniciativas Latino-Americanas da Columbia Journalism School, Ernest R. Sotomayor, foi categórico ao afirmar que ninguém sabe qual será o futuro da profissão porque milhões de pessoas simplesmente não querem pagar por jornalismo, por conteúdo de qualidade. “Não quero ser pessimista, mas vamos enfrentar um período grande de dificuldades no jornalismo até conseguirmos encontrar um caminho”, disse.
Presidente do Grupo Bandeirantes, João Carlos Saad comentou sobre a entrada de serviços pagos no mercado brasileiro, como Spotify e Netflix, e seu impacto no mercado brasileiro, assim como as fake news no ramo televisivo e reforçou que o conteúdo checado, assinado, com os dois lados, é sempre o único caminho para reforçar a atividade profissional.
Também palestrante, o cofundador do site JOTA, Felipe Recondo, falou sobre a retomada do jornalismo segmentado e sobre o investimento feito pela empresa especializada em notícias jurídicas. “As pessoas que entram no site têm que pagar, então temos de ser úteis a essas pessoas. Nesse esforço, a prática é a de oferecer a notícia (especialmente a jurídica) da forma didática”, ressaltou.
Todos os palestrantes foram unânimes em afirmar que, apesar da inovação da gama de produtos e dos investimentos em novas tecnologias para manter o jornalismo profissional, a atividade hoje vive um clima hostil, muitas vezes incentivado pela classe política.
Dados
Palestrante no painel “Jornalismo de dados: o que há por trás das grandes reportagens”, o editor do Estadão Dados e presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Daniel Bramatti ressaltou a importância do jornalismo de dados diante do cenário em que governos desacreditam o trabalho do jornalismo profissional. “É um momento muito grave em que o governo contesta seus próprios dados”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.