Nova campanha ainda é desafio para candidatos

Sem as armas tradicionais das campanhas eleitorais das últimas décadas, abolidas nas mudanças feitas pelo Congresso Nacional na legislação, os partidos e candidatos às eleições de outubro procuram formas alternativas de atrair a atenção dos eleitores.

Com a proibição dos showmícios, brindes, camisetas, bonés, outdoors e outros artefatos típicos de abordagem dos eleitores, os dirigentes partidários avaliam que a palavra e o contato direto vão ser mercadorias muito valorizadas nesta campanha, que será a primeira sem a mediação de artistas e dos mimos que ajudam a quebrar o gelo do eleitor.

O que vai valer é a capacidade para o debate, aposta o presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni, pré-candidato à reeleição para a Assembléia Legislativa. No lugar dos comícios, Rossoni acha que ganham força as reuniões setorizadas e os debates localizados em segmentos do eleitorado. "A campanha para o governo e Senado ainda vai render grandes comícios, mesmo sem artistas. Mas na disputa entre deputados, vai valer muito a capacidade do sujeito em apresentar e debater a sua proposta", afirmou o dirigente estadual tucano.

Rossoni analisou que os candidatos ao governo e ao Senado costumam despertar a atenção do eleitor, mesmo sem chamarizes. "As pessoas vão aos comícios para ver o candidato a presidente, a governador. Esses comícios vão continuar atraindo a população. Agora, deputado tem muito mais dificuldade para chamar gente", comparou.

Para o dirigente tucano, o candidato vai ter que andar mais nesta campanha. "É melhor alugar um avião para poder visitar várias cidades e debater com o eleitor do que ficar gastando e distribuindo boné", disse.

Trens pagadores

As mudanças vão ter um grande impacto sobre os candidatos acostumados a grandes investimentos em campanhas eleitorais, disse o presidente estadual do PMDB, Dobrandino da Silva. "Para nós, que fazemos campanha na sola do sapato, vai ser ótimo, porque assim acaba com os abusos. A mudança vai atrapalhar os trens pagadores", afirmou o dirigente peemedebista, referindo-se a candidatos que ganharam esse apelido devido a campanhas caras e sofisticadas, acompanhadas de suspeitas de compra de votos.

Dobrandino acha que haverá mais equilíbrio na disputa e trará de volta fórmulas de campanha que alguns já estavam abandonando como o chamado "corpo a corpo com o eleitor". Para o presidente estadual do PMDB, o diálogo direto com a população sempre funcionou. "Sempre fiz dessa forma. Nunca fiz campanha de longe", afirmou.

Concorrência desleal

O poder econômico vai perder influência nesta eleição, espera o presidente estadual em exercício do PDT, deputado Augustinho Zucchi. Assim como outros dirigentes, Zucchi está apostando que as superproduções terão que, obrigatoriamente, dar espaço às propostas e projetos de cada candidato. "Sem aquele aparato todo, a população vai se concentrar na essência da política e é claro, que vai ser mais criteriosa na hora de escolher", avaliou.

Zucchi acha que saem os artistas, cantores e bailarinos, e ganham espaço os líderes comunitários, sindicais e as pessoas que exercem algum tipo de liderança em suas atividades. "O que vai contar é a inserção do candidato nos setores que representa e o diálogo com as lideranças. Uma atriz apoiando uma candidatura chama bastante a atenção, mas um líder comunitário tem um papel muito mais importante, que é discutir com o candidato os compromissos com a população. Quanto menor o gasto com shows, outdoors, mais vai sobressair a representatividade de cada um", afirmou o deputado. 

Regras aproximam candidatos e eleitores

Rhodrigo Deda

Foto: João de Noronha/O Estado

Durval vê nas regras eleitorais um efeito positivo.

Alguns dirigentes partidários avaliam que as novas regras vão aproximar eleitores dos candidatos, mas não resolverão problemas maiores, como a falta de transparência financeira das campanhas. Essa é a opinião do pré-candidato ao governo pelo PPS, Rubens Bueno, que vê na regulamentação atual apenas um remendo do que deveria ser uma reforma política. Segundo ele, a raiz do problema está no financiamento público. "Isso eliminaria grande parte da corrupção. Daria igualdade de condições para todos", afirmou.

Bueno disse que a proibição de shows, brindes e outdoors não trará problemas ao partido. "Como não temos poder econômico, a nossa campanha não muda nada. Continuamos a trabalhar da mesma forma que trabalhávamos. Fazendo política corpo a corpo e chamando a população a nos ajudar a construir um plano de governo", disse. Porém, Bueno afirmou que as novas regras privilegiam candidatos que são conhecidos e possuem mandato, em detrimento dos novos candidatos. "Os novos candidatos são afetados por não poderem utilizar outdoors e podem ter dificuldades nessas eleições."

O presidente estadual do PT, André Vargas, também acredita que as proibições não vão afetar o partido. "Só vão afetar os candidatos que apostam nessas práticas. Quem tradicionalmente não aposta nisso, não vai ter problemas", disse. Porém, Vargas explica que os problemas em campanhas eleitorais não serão resolvidos acabando com bonés e brindes.

Ele afirmou que algumas medidas só tem eficácia aparente, como a de prestação de contas de campanha via internet. "Não é uma panacéia que vai resolver o problema. Se não houver fiscalização, ao invés de coibir, essa medida pode incentivar o caixa-dois. Os doadores de campanha geralmente não querem aparecer." Para Vargas, não foi feita uma reforma política efetiva. "O que Congresso Nacional tratou é perfumaria. Boné é um instrumento de campanha. Acabaram com o lado festivo. Começaram por um problema menor. Acha que o problema que estamos vivendo é por causa de um bonezinho?", declarou. A preocupação de Vargas é que o dinheiro não utilizado na compra de camisetas seja usado para comprar votos.

Sem ostentação

Já o vice-presidente estadual do PFL, deputado Durval Amaral, vê nas regras eleitorais um efeito positivo. Segundo Amaral, elas acabam com a cooptação de votos, através de shows e brindes. "O outdoor ostenta poder econômico. Infelizmente esses recursos acabavam beneficiando quem tinha mais poder econômico. Contratavam banda, faziam festa do pão e circo e enganavam à população." Amaral afirma que a nova regra é uma medida saneadora e acaba com a moeda de troca por votos. "Fortalece os candidatos que tem serviço prestados. E os novos candidatos vão ter de se mostrar engajados na sociedade."

Segundo Amaral, sem os recursos de shows e brindes, a televisão continuará com seu papel preponderante nas eleições majoritárias. "Candidatos das eleições majoritárias terão a oportunidade de chegar mais próximo dos eleitores pela TV, uma vez que os shows estão proibidos", disse.

Associação vai apelar ao Supremo

A Associação Nacional das Indústrias de Bonés, Brindes e Similares (Anibb) entrou nessa semana, por meio da Confederação Nacional da Indústria, com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adi) no STF, com o objetivo de suspender a decisão que proibiu a distribuição de brindes por candidatos e partidos políticos durante a campanha eleitoral deste ano. "Se houver a reversão, vamos conseguir recuperar no máximo 70%", disse o presidente da Anibb, Valdenilson da Costa.

O setor se prepara desde o início do ano para um aumento que poderia chegar a 50% nas vendas, em razão do período eleitoral. Em Apucarana, conhecida como Capital do Boné, o faturamento deveria ser de R$ 15 milhões. A decisão de restringir os brindes esquentou a cabeça de todos. "Foram feitos investimentos e agora estamos ferrados, como os agricultores", lamentou Costa.

Na Adi, a associação argumenta que a Constituição prevê que qualquer lei alterando o processo eleitoral pode somente entrar em vigor no ano seguinte à aprovação. "Mas deram um jeitinho para validá-la porque é importante para eles (políticos)", criticou Costa. "Jogaram a Constituição fora." A recente decisão do TSE, que voltou atrás na determinação rígida de verticalização, anima os produtores de brindes. "Acreditamos que também temos chances", disse Costa. (AE)

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