No Paraná, PT admite se afastar de Requião

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Welter: "Apoio cego é complicado. Agora, deve ser apoio crítico".

Principal aliado do PMDB no Paraná desde a sucessão estadual de 2002, o PT começa a admitir que irá se distanciar do governador Roberto Requião, em resposta à decisão da convenção nacional peemedebista de deixar o governo federal.

O deputado Natálio Stica (PT) disse ontem que sairá da liderança do governo na Assembléia Legislativa, a partir do próximo ano, se esta for a orientação do diretório estadual do seu partido. No próximo sábado (dia 18), o diretório do PT se reúne em Curitiba para avaliar a posição do PMDB. Pelo menos na bancada estadual, a tendência é se declarar independente da base de sustentação do governador Roberto Requião (PMDB).

O líder da bancada, Elton Welter, afirmou que há um sinal claro de que o partido vai adotar uma postura de "apoio crítico" ao governo do PMDB, tal qual Requião defendeu no plano nacional em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Welter disse que sua tendência – Estrela da Gente – tem entre 25% a 30% dos votos do diretório e defende a saída da base do governo. "O apoio cego é complicado. Agora, deve ser apoio crítico. Talvez seja isso o que o governador queira", ironizou.

Welter comentou que o processo de afastamento entre os dois partidos faz parte da sucessão de 2006. "Acabou a eleição municipal e já começou a eleição presidencial e para o governo. O PMDB está tentando alavancar sua candidatura à presidência da República", disse.

Já o presidente estadual do PT, deputado estadual André Vargas, disse que a reciprocidade política entre PT e PMDB está acabando no Paraná. "O PT vai tomar uma decisão no Paraná. A questão é política. Esperava-se que o governador Requião fosse o único a defender o apoio ao governo Lula. Em 2002, o Lula elegeu o Requião aqui. Nós não vamos para a oposição ao governo Requião. Mas vamos dar a ele o apoio que ele quer dar ao Lula", disse.

Para o dirigente estadual do PT, os desdobramentos da decisão do PMDB somente serão conhecidos no próximo ano, quando o calendário político retornar ao normal. Entretanto, segundo Vargas, o processo de distanciamento entre as duas siglas já começou há muito tempo. "As circunstâncias já estão aí desde 2003, quando o governador começou a atacar ministros do PT, a política econômica do governo e recentemente, um assessor do governador atacou deputados estaduais do PT", afirmou Vargas.

Solitário

O único cargo de primeiro escalão ocupado pelo PT no governo é a Secretaria do Trabalho e Promoção Social, cujo titular é o ex-deputado federal Padre Roque Zimmermann. Vargas disse que o diretório irá discutir o que fazer no caso de Padre Roque, embora ele não tenha sido indicado pelo partido, mas tenha aceito um convite pessoal de Requião para participar do governo.

Para Stica, o PT deve agir com calma e paciência ao definir os novos termos da relação com o PMDB. Conforme o líder do governo, a postura peemedebista de deixar o governo Lula fortaleceu a ala estadual que quer romper com o governo Requião.

PPS nacional deixa base aliada

O presidente do Diretorio Regional do PPS, Rubens Bueno, classificou de "histórica" a decisão do partido de se afastar do governo federal. "Estamos fora do governo. Vamos firmar nossa posição de independência, apoiando as iniciativas governamentais de forma crítica quando elas forem de absoluto interesse do país e nos colocando em campo oposto quando entendermos que assim deve ser", afirmou o secretário-geral da executiva nacional do PPS, Rubens Bueno.

A decisão reflete o posicionamento da base do PPS, conforme ficou demonstrado nas resoluções aprovadas por vários diretórios estaduais – incluindo o do Paraná – nos últimos dias. "A partir de agora, o PPS deve aprofundar o debate interno sobre a construção do projeto alternativo para o país", disse Rubens.

"A nosso juízo, essa opção ganhará mais força por conta do diálogo iniciado com o PDT", declarou o secretário-geral da executiva nacional. A decisão do diretório nacional, assim como os resultados do seminário Darcy Ribeiro de Socialistas e Trabalhistas, foi discutida ontem pela cúpula estadual da legenda.

A decisão do PPS nacional foi tomada no último dia 11 e representa a vontade de 73,45% dos membros do Diretório Nacional. Foram 83 dirigentes a favor da saída e 30 contra.

Governador nega rompimento

O governador Roberto Requião (PMDB) justificou ontem a posição aprovada pela convenção nacional do partido, realizada no último domingo. Requião disse que o afastamento do PMDB do governo federal não significa um rompimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas uma posição de independência e manifestação de discordância da política econômica do ministro Antônio Palloci.

"Nós não queremos desorganizar o governo do presidente Lula. Nós queremos é recriar o PMDB, dar ao PMDB uma oportunidade de renascer, de discutir as políticas, e não ficar atrelado às decisões econômicas do governo federal, que são do Fundo Monetário Internacional", declarou.

Segundo Requião, mesmo antes da derrubada da liminar que suspendia a convenção, foi sinalizada a posição política majoritária do partido – o afastamento do governo de Luís Inácio Lula da Silva e o lançamento de uma candidatura própria nas eleições presidenciais de 2006.

Rédeas curtas

Um dos delegados na convenção nacional, o chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, afirmou que vai propor ao diretório estadual do PMDB que os candidatos do partido a futuras eleições passem pelo crivo dos integrantes do partido no Estado. Com a extinção das chamadas candidaturas natas, conforme texto aprovado no ano passado pelo Congresso Nacional, Quintana acha que os peemedebistas com mandato devem se submeter ao aval do diretório estadual para terem direito a concorrer novamente aos cargos que ocupam. Antes, a vaga dos filiados com mandato na chapa de candidatos era automaticamente garantida.

"Vou propor ao diretório estadual que os parlamentares que não acompanharem a decisão da Executiva Nacional e votarem contra esta posição não devam ser incluídos na chapa de candidatos do partido para a eleição seguinte", explicou.

Quintana citou que outra decisão aprovada na reunião da Executiva Nacional do último domingo foi quanto ao fechamento de questão, relativa a deliberações tomadas pela Comissão Executiva Nacional do partido. "Isso significa que quando a Executiva fechar questão em assuntos relevantes, obriga o parlamentar votar de acordo com a orientação partidária, sob pena das sanções previstas."

O chefe da Casa Civil disse que a decisão da Executiva Nacional do PMDB, em reunião realizada em Brasília, foi majoritariamente de afastamento do governo federal e de entrega de cargos por parte dos peemedebistas.

"O motivo desta decisão é permitir ao partido ter liberdade para pôr em prática seus planos de ação política, econômica e social e para preparar nomes para a disputa à presidência da República", disse.

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