O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende que a Copa do Mundo “tornou-se objeto de feroz luta política e eleitoral no Brasil”. Em artigo publicado no jornal espanhol El País, Lula diz que “à medida que se aproxima a eleição presidencial de outubro, os ataques ao evento tornam-se cada vez mais sectários e irracionais”. Para Lula, “determinados setores parecem desejar o fracasso da Copa, como se disso dependessem as suas chances eleitorais”.
No artigo “O mundo se encontra no Brasil” sobre o mundial de futebol, Lula diz que “as críticas, naturalmente, são parte da vida democrática”. “Quando feitas com honestidade, ajudam a aperfeiçoar a preparação do País”, argumenta. “Mas determinados setores parecem desejar o fracasso da Copa, como se disso dependessem as suas chances eleitorais”, afirma.
Além de acusar alguns políticos de torcerem contra o mundial, o ex-presidente acusa esses setores de disseminarem informações falsas no País. “Não hesitam em disseminar informações falsas que às vezes são reproduzidas pela própria imprensa internacional sem o cuidado de checar a sua veracidade. O País, no entanto, está preparado, dentro e fora de campo, para realizar uma boa Copa do Mundo – e vai fazê-lo”, diz Lula no artigo.
No artigo, Lula lembra da infância e de quando o Brasil ganhou o torneio em 1958 na Suécia. “Eu tinha 1 anos, e juntei um grupo de amigos para ouvirmos a partida final num campinho de várzea com um pequeno rádio de pilha”, diz. “Eu sonhava em ser jogador de futebol, não presidente do Brasil”.
Esquerdismo
“Naquela época, o Brasil estava começando a se industrializar, tinha criado a sua própria empresa de petróleo e o seu banco de desenvolvimento, as classes populares reivindicavam democraticamente melhores condições de vida e maior participação nas decisões do país. Mas os setores privilegiados diziam que isso era um erro gravíssimo, fruto de ‘politicagem’ ou ‘esquerdismo'”, diz Lula. Na época, explica o ex-presidente, os opositores diziam que “comprovadamente não existia petróleo em nosso território e não tínhamos necessidade alguma de inclusão social e muito menos de uma indústria nacional”.
Lula lembrou ainda que naquela época alguns críticos diziam que Brasil era uma nação “atrasada, mestiça e de povo ignorante e preguiçoso”. “Segundo um estereótipo muito difundido dentro e fora do País, devia conformar-se com o seu destino subalterno, sem ficar alimentando sonhos irrealizáveis de progresso econômico e justiça social”, cita Lula. “Na verdade, não é fácil superar o “complexo de vira-lata”. Fomos colônia por mais de 320 anos, e a pior herança dessa condição é a persistência da mentalidade colonizada de servidão voluntária”, completa.
Lula diz ainda que a Copa será “uma oportunidade extraordinária para milhares de visitantes conhecerem mais profundamente o que o Brasil tem de melhor: o seu povo”. “A importância da Copa do Mundo não é apenas econômica ou comercial. Na verdade, o mundo vai se encontrar no Brasil a convite do futebol. Vai demonstrar novamente que a ideia de uma comunidade internacional pacifica e fraterna não é uma utopia”, completa o artigo.