O deputado distrital Geraldo Naves passou os últimos dois dias sem falar com a imprensa. Hoje, subiu à tribuna do plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal para falar pela primeira vez como deputado recém empossado depois de ter passado dois meses preso na penitenciária da Papuda, em Brasília. No discurso, criticou a imprensa, voltou a confirmar que intermediou a entrega de um bilhete do ex-governador José Roberto Arruda ao jornalista Edson Sombra, mas negou que o conteúdo do papel tratasse de tentativa de suborno.
Geraldo Naves ficou preso por 60 dias, acusado de envolvimento na tentativa de suborno de Edson Sombra, uma das principais testemunhas do “mensalão do DEM”. O mesmo episódio motivou a prisão de outras cinco pessoas, entre elas, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (ex-DEM). Na última segunda-feira, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça determinou a soltura de todos.
O bilhete que o jornalista entregou à Polícia Federal continha frases não interligadas. A mensagem foi vista como uma das provas da suposta tentativa de suborno, e o grupo envolvido no episódio foi preso acusado de obstruir as investigações da Justiça, que investiga o “Mensalão do DEM”, esquema de corrupção que seria chefiado por Arruda.
Antes da prisão, o deputado havia explicado a alguns repórteres o significado das palavras. Geraldo Naves também relatou que foi Edson Sombra quem o procurou se dizendo preocupado com o patrocínio governamental ao jornal que ele trabalha.
Hoje, porém, Geraldo Naves mudou sua versão dos fatos. Disse que as frases contidas no bilhete eram um recado que Edson Sombra queria que fosse repassado ao governador e não o contrário. O deputado teria conversado primeiro com o jornalista e depois pessoalmente com o ex-governador. Arruda, então, teria anotado em um pedaço de papel as ideias principais do recado enviadas pelo jornalista.
O papel teria parado nas mãos de Edson Sombra porque Geraldo Naves teria pedido a Arruda para ficar com ele, e não se esquecer da resposta que daria ao jornalista – segundo o próprio relatou aos colegas em plenário. E assim, na versão do deputado, o papel foi interpretado erroneamente como um bilhete do ex-governador.
“Ele (Arruda) pegou aquelas anotações e tem um triturador que ele triturava muitas anotações. Ele pegou aquele papelzinho e ia triturar. Eu falei: me dê. É para eu lembrar dos tópicos. Então aquelas anotações eram minhas, não foi endereçada a ninguém”, relatou Naves, da tribuna.
Visivelmente mais magro, o deputado contou que, na prisão, comia apenas “um pãozinho” pela manhã. “Acho que nem nos mais pobres rincões deste País se come isto”, disse, antes de contar que vivia com outros cinco detentos em uma cela de 1,80 metro de largura por 2 metros de cumprimento, “com um banheiro pequenininho e banho de água fria”.
“Hoje eu sei que anotações servem para você ir para a cadeia. Há que se tomar cuidado”.