O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou não ver problemas se ficar fora da chapa do presidente Jair Bolsonaro numa eventual disputa à reeleição, em 2022. Sob o argumento de que há ainda um longo período de governo e uma série de tarefas a cumprir, o general avaliou ser cedo para essa discussão. “Quando chegar lá, em 2022, se o presidente precisar de mim, ele sabe que conta comigo como um soldado da visão de País que ele tem. Se não precisar, muito bem também. Não tem problemas quanto a isso”, disse ao Estado, um dia depois de vir à tona uma conversa em que Bolsonaro teria dito que preferia o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) como vice. O general disse não ter motivos para mágoas. “Na minha idade, aos 66, são outras coisas que me chateiam”, afirmou. A seguir os principais trechos da entrevista.
O que o sr. achou da afirmação de Bolsonaro dizendo que o vice deveria ser Orleans e Bragança?
Aquelas afirmações que foram colocadas na imprensa, pelo dado que tenho, não são verdadeiras. Então não tem o que comentar.
O sr. formaria chapa novamente com o presidente em 2022?
Estamos em 2019. Temos de resolver uma porção de problemas, colocar a nossa economia de volta numa situação de recuperação, cuidar da segurança. Temos uma série de tarefas. Não é hora de estar pensando nisso e não estou pensando. Não tenho ambições políticas, nunca tive. Eu, única e exclusivamente, estou aqui para cooperar com um projeto liderado pelo presidente Bolsonaro.
Embora diga que é cedo, há perspectiva de sua participação na chapa?
Vamos aguardar. Quando chegar lá, em 2022, se o presidente precisar de mim… Ele sabe que conta comigo como um soldado da visão de País que ele tem. Se não precisar, muito bem também. Não tem problemas quanto a isso.
O presidente ouve o sr.? Como está sua relação com ele?
Nossa relação é dentro daquilo que é um presidente e um vice: quando ele precisa da minha opinião, me consulta. Se minha opinião ele considera válida, ótimo. Se não considera, isso faz parte de qualquer processo decisório.
Ele acata?
Quando julgo que as coisas têm de ser colocadas de forma mais organizada, vou lá e falo com ele. Agora, decisões do presidente são decisões do presidente. A partir do momento em que ele decide, estou 100% com ele.
Houve redução de militares no círculo próximo do presidente. A que o sr. atribui isso?
Da mesma forma que o presidente designou pessoas para ocupar determinados cargos, ele também as retirou. Não pode ser olhado o passado da pessoa, se era militar ou civil. Tem de olhar o desempenho.
Como avalia a crise no PSL?
O PSL não é o meu partido (Mourão é filiado ao PRTB). Isso é um problema interno do partido. É a mesma coisa que você me perguntar da crise do PT, também não sei.
O fato de o presidente sair do partido pode alterar o governo?
Não altera nada porque o PSL tem o seu papel e, se o presidente vai criar um novo partido, é uma decisão dele.
Isso não pode ter reflexos nas eleições no ano que vem?
Vamos aguardar, porque tem muita água para rolar. Como as pessoas vão se posicionar, qual a visão estratégica que o presidente e o grupo político dele têm…
Grupo político “dele”? O sr. não se considera do grupo do presidente?
O grupo político de que estou falando é o partido dele.
O sr. conversou com o presidente sobre o comentário da reunião de terça?
Não porque sei que o comentário não foi desta forma. Pessoas que estavam na reunião disseram claramente que ele não falou isso. Então pronto. Não tem que ser comentado.
O sr. não ficou chateado?
Nada. Na minha idade, aos 66, são outras coisas que me chateiam.
No início do governo, o sr. exercia maior protagonismo. Pretende retomá-lo?
Não exerci protagonismo nenhum. As pessoas não me conheciam e me procuravam muito mais para traçar o perfil, para saber como eu pensava. A partir do momento que entenderam quem eu sou, deixaram de me procurar. Não sou eu o ator principal deste filme. O ator principal é o presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.